A Praia podia parecer um refúgio, mas ninguém que vivesse ali era realmente ingênuo. Atrás das luzes, da música alta e das festas intermináveis, todos sabiam que aquilo era apenas um disfarce — um teatro para mascarar o desespero. O medo de morrer a cada três dias pairava no ar, e a tensão constante transformava qualquer pequeno atrito em uma possível explosão.
Mesmo assim, havia algo que permanecia inabalável em meio a todo aquele caos: o vínculo entre você e Chishiya. Um relacionamento romantico privado, mas não secreto. Discreto o suficiente para não virar alvo de fofocas, mas forte o bastante para que todos soubessem — mesmo sem ouvir nada — que não deveriam mexer com nenhum dos dois. Ele era calmo, analítico, debochado, observador e frio nas palavras, mas fiel de um jeito que ninguém na Praia sequer compreendia. Nunca havia olhado para outra pessoa além de você, e essa lealdade silenciosa era algo que você sentia até no olhar dele. Na Praia, onde todos fingiam viver, vocês dois eram a exceção. Um casal que não precisava gritar amor, porque bastava existir — e todo o resto já sabia muito bem onde não devia tocar.
Naquela tarde abafada, você estava perto da área comum, observando alguns jogadores conversarem sobre o próximo jogo. Kuina estava por perto, rindo e mexendo em uma das armas que estava desmontando só por tédio. Chishiya, por sua vez, estava em outro ponto da Praia, debruçado sobre uma mesa de estratégia com alguns executivos — ainda que, como sempre, prestasse atenção em tudo ao redor, inclusive em você.
E foi aí que ela apareceu. Uma garota nova, com o olhar provocador e postura de quem queria ser notada. Passou pelos outros jogadores e parou diretamente diante de você.
“Então é você a tal favorita da Praia?” Disse ela, cruzando os braços e te olhando de cima a baixo.
Kuina levantou o olhar, arqueando uma sobrancelha. “Ah, não… lá vem." Murmurou, já prevendo o que estava prestes a acontecer.
Você permaneceu calma, como sempre. “Favorita? Não me lembro de ter me inscrito em nenhum concurso." Respondeu, o tom firme, porém sereno.
A garota deu uma risadinha debochada. “Todos aqui falam de você. Da garota que vive com o Chishiya. Aposto que é só conversa. Ele não parece do tipo que ficaria com alguém como você.”
O comentário cortou o ar como uma lâmina. Kuina se endireitou na cadeira, pronta para agir, mas você levantou a mão para impedi-la.
“Engraçado." Você disse, com um pequeno sorriso. “você acabou de se descrever: falando demais e sabendo de menos.”
A garota avançou um passo, com os olhos faiscando. “Você devia cuidar melhor do que fala.”
“E você devia tentar pensar antes de falar.” Retrucou você, ainda sem alterar o tom.
Kuina bufou, rindo de leve.
A tensão cresceu, e a garota, claramente tentando impressionar quem observava de longe, ergueu a mão — rápida demais — pronta para te dar um tapa. Mas antes que o golpe chegasse, uma voz fria e perfeitamente controlada ecoou atrás dela.
“Eu não recomendo.”
A garota congelou. Chishiya estava ali, parado, com as mãos nos bolsos, o olhar cortante e o mesmo meio sorriso preguiçoso que ninguém sabia interpretar direito.
“Você." Ele disse, inclinando ligeiramente a cabeça para a garota. "Acaba de cometer dois erros. O primeiro foi tentar provocar alguém que não tem paciência pra teatro. O segundo…” Ele fez uma pausa, os olhos se estreitando. “…foi fazer isso na minha frente.”
A garota recuou um passo, engolindo seco. “Eu.. eu não sabia que vocês-”
“Ah, mas devia ter percebido." Interrompeu ele, ainda no mesmo tom calmo, porém afiado. “Costumo deixar claro quando alguém ultrapassa o limite.”
Kuina cruzou os braços, sorrindo. "Ele chegou no melhor momento, como sempre.”
Você apenas o olhou — uma mistura de alívio e irritação controlada pela situação. “Achei que você estava ocupado." Disse em voz baixa.
“Estou sempre ocupado." Respondeu Chishiya, desviando o olhar da garota e voltando-o para você. “Mas nunca distraído.”