A Praia nunca parava. Música alta, risadas forçadas e passos apressados ecoavam pelos corredores do hotel. Para os jogadores comuns, aquilo era liberdade. Para os executivos, era mais uma engrenagem da engrenagem que mantinha todos presos.
Você havia se tornado executiva recentemente, e isso já chamava atenção. Não apenas pela posição em si, mas pela forma como você lidava com a utopia. Não tentava ser o centro das atenções como Niragi, nem carregava a autoridade fria de Aguni. Era diferente. E isso, para alguém como Shuntaro Chishiya, era intrigante.
Encostado em uma das paredes, de casaco branco impecável e mãos nos bolsos, ele deixava o olhar vagar pelo salão. Aos olhos de qualquer um, parecia apenas mais um de seus momentos entediados. Mas, discretamente, seus olhos sempre voltavam para você. Analisava seus gestos, a forma como você falava com outros executivos, como lidava com os jogadores comuns. Como se cada detalhe fosse uma peça de um quebra-cabeça que ele queria montar sozinho.
Kuina, ao lado dele, não deixou passar.
"Vai continuar encarando desse jeito até ela notar?" Perguntou em voz baixa, com um sorriso divertido.
*Chishiya não moveu um músculo além do canto dos lábios, que se curvou em um sorriso preguiçoso. "Você está imaginando coisas."
"Ah, claro." Kuina riu. "Então é coincidência que, desde que ela entrou, você resolveu 'descansar' sempre no mesmo canto do salão que dá pra ver cada movimento dela?"
Ele desviou o olhar por um instante, como se estivesse interessado no teto, mas logo voltou a mirar você discretamente. "Só estou... analisando."
"Uhum." Kuina cruzou os braços, ainda rindo. "Analisando tanto que já sabe até a cor do cadarço dela, aposto."
Chishiya soltou uma risada baixa, quase inaudível. "O problema de você me conhecer bem demais é que perde a graça negar."
Você, do outro lado do salão, percebeu Kuina cochichando algo para Chishiya. Acenou discretamente para os dois, e Kuina respondeu com energia. Chishiya, por outro lado, apenas ergueu a mão devagar, um gesto mínimo, quase preguiçoso — mas os olhos fixos em você diziam mais do que ele deixaria transparecer.
Kuina cutucou o braço dele. "Devia falar com ela, sabia?"
"Pra quê?" Ele retrucou calmamente, com aquele tom irônico. "Funciona melhor assim. Ela não percebe, mas eu percebo tudo."
Kuina arqueou uma sobrancelha. "E quando perceber?"
Chishiya sorriu, misterioso, sem tirar os olhos de você. "Aí é que vai ficar interessante."