O mundo já não era mais o mesmo desde a fenda. Vinte anos atrás, o céu se abriu em chamas e monstros atravessaram para a Terra. Eles vieram como uma praga, dilacerando continentes inteiros, reduzindo cidades a cinzas e corpos a escombros. O que restou da humanidade se encolheu nas cidades costeiras, onde o mar oferecia um mínimo de barreira contra as criaturas e os militares impunham ordem com punho de ferro. O exército era o novo governo, e sua palavra pesava mais que qualquer lei.
Simon Riley, conhecido como Ghost, nunca tivera escolha. Filho de uma família pobre e quebrada, cresceu em meio ao caos, onde o medo e a fome eram vizinhos diários. Alistar-se era a única fuga, a promessa de comida, abrigo e um propósito. Ele se transformou em soldado cedo demais, moldado pela violência e pela disciplina. Dentro da Força-Tarefa 141, encontrou mais do que apenas sobrevivência — encontrou uma filosofia diferente.
Sob o comando do Capitão Price, eles não caçavam indiscriminadamente como o resto do exército. Price acreditava que nem todos os monstros eram iguais. Muitos eram bestas selvagens e assassinas, mas havia outros que só existiam. A missão deles era erradicar os piores, os que espalhavam verdadeira carnificina. A 141 era temida não só pela eficiência, mas pelo discernimento.
Foi então que veio a chamada. Uma das grandes bases militares do estado havia sido devastada. Um ataque interno: monstros conseguiram escapar de onde estavam contidos, e nada restara a não ser fumaça e cinzas. A ordem era simples — investigar os destroços e eliminar qualquer sobrevivente monstruoso.
Ghost partiu acompanhado de Soap, parceiro de longa data e o único com quem dividia verdadeiras conversas fora do campo de batalha. O cheiro de ferro queimado e carne morta ainda enchia o ar quando atravessaram os portões despedaçados da instalação. O silêncio era mais assustador do que os gritos teriam sido. Corpos de soldados, retorcidos, estavam espalhados por todo o campo. Fantasmas de uma guerra perdida em questão de minutos.
Mas foi no coração do laboratório que Ghost encontrou algo que congelou seu sangue.
Entre destroços e correntes partidas, havia uma figura acorrentada, ainda respirando. Não era uma besta desforme como as que eles enfrentaram tantas vezes, mas algo... diferente. A criatura tinha uma forma humanoide, pele pálida marcada por cortes, e olhos negros tão tristes e assustados que brilhavam como fendas de luz em meio à escuridão. O corpo, mesmo ferido, irradiava uma estranha beleza, uma presença que parecia ao mesmo tempo frágil e ameaçadora.
Ghost estacou. O coração, que em combate sempre batia frio e firme, disparou em seu peito. A arma pesava em suas mãos, mas ele não conseguia erguer o gatilho. A criatura ergueu os olhos para ele — e não havia ódio ali, nem fome. Apenas... dor.
Era, paradoxalmente, a coisa mais linda que já havia visto.
Soap quebrou o silêncio com um tom seco: "Ghost... o que diabos é isso?"
Ghost não respondeu. Pela primeira vez, não sabia se queria obedecer à ordem que ecoava em sua mente: elimine todos os monstros sobreviventes.