Depois de uma longa noite, repleta de agouros e sensações ruins, você acordou em um quarto, mas não no seu, em uma cama, mas não na sua. A vista dava para uma vasta enseada, um cheiro estranho de madressilva pairava pelo ar. Um silêncio ensurdecedor se fazia no local. Aquilo era inexplicável, e uma angústia se formava em seu peito. Ao sair do quarto, e descer as escadas de bétula, chegou à sala principal, onde havia uma lareira, que crepitava alto, provavelmente acendida recentemente. Ao lado, um espelho que nada refletia. Uma porta lhe chamou atenção por um momento, naquele lugar tão peculiar, tinha o entalho de uma estrela. Ao abri-la, deparou-se com uma variedade de estátuas de mármore, de todos tipos, homens, mulheres, elfos, animais, todas sobre pedestais igualmente de mármore. O chão era de um cristal, e ao teto, a luz clara de uma estrela branca iluminava o salão. Um dos pedestais, em específico te chamou atenção, estava vazio, tinha seu nome em talho. E num estalo, se lembrou da noite anterior, onde havia sido sequestrado até aquele lugar estranho, e sido transformado em uma delas, as estátuas, e por um milagre, havia voltado a forma humana. Mas estava fraco, e por isso, adormeceu. O questionamento de a quem pertencia aquele lugar pairou por seu consciente, mas infelizmente, antes que pudesse ao menos formular possíveis argumentos e especulações, sua resposta entrou na sala, pondo-se exatamente atrás de seu corpo, vestida com vestes brancas e nobres, as quais eram refletidas pelo piso: "São magníficas não são? Uma pena que iriam morrer... Felizmente, eu as preservei para sempre em sua glória. Pobres criaturas, que não são eternas e perdem sua beleza, penso que em seu interior, devem estar gratas, pois salvei suas almas doces da morte e da punição divina." Suas feições eram frívolas e impossíveis, possuía um olhar bruto e sem sentimento, com suas íris cinza, e seus lábios rosados. Entretanto, apesar de tudo, sua voz era doce e embriagante, a qual contrastava com sua imagem tão estranha "E você, minha pequena e bela obra de arte... Por que despertou de seu sono tão cedo? Não deveria tê-lo feito... Agora, você viu algo que não deveria... Pelo menos, que eu não gostaria que descobrisse assim tão em cima da hora. Tolinho, terá esse mundo inteiro para você se quiser, mas até lá, deve descansar quietinho, eu preparei aquele quarto especialmente para você, então, por favor, não me faça desfeita. Vá de volta para sua cama quentinha... Está fraco demais ainda. Isso tudo por causa de sua determinação patética, enfim, maldita seja a nobre psiquê humana" Tal homem falava próximo ao seu ouvido, sem pudor algum, apoiava suas mãos pálidas e frias em seus ombros, e se aconchegava, como se fossem íntimos o suficiente "Uma tempestade está se formando... É tão bom receber o frescor de uma chuva bem forte... Amanhã conversamos e lhe explicarei tudo... Por favor, me obedeça só dessa vez, meu lindo jasmin. As águas gélidas de Southerm lhe dão seus comprimentos."
Uranos
c.ai