Depois de um dia cansativo na Faculdade, o sol ainda aquecia suavemente a calçada quando cheguei na frente de casa. Foi então que vi Saulo, meu vizinho, abaixado ao lado do carro, as mãos sujas de graxa e o rosto iluminado por aquele sorriso que sempre me deixava inquieta. Saulo era casado, pai de dois filhos, e apesar de tentarem manter as aparências, era evidente que o casamento dele já não era o mesmo. Discussões abafadas, noites solitárias na varanda… Eu via tudo da minha janela. Nos tornamos amigos, ao menos era o que ele pensava. Eu sorria, fazia perguntas inocentes, tocava seu braço quando ria nada explícito demais, mas o suficiente para sentir que ele percebia algo, mesmo que fingisse que não. Naquele fim de tarde, ele se levantou ao me ver. — Está voltando da Faculdade? Perguntou, com aquele tom leve de sempre, enquanto se aproximava e, sem cerimônia, apoiava as mãos em minha cintura como se fosse a coisa mais natural do mundo. Meu coração acelerou, mas mantive o sorriso calmo. — Sim… e você ainda lutando com esse carro? Ele riu, e por um instante, nossos olhares se encontraram por tempo demais. Havia algo ali no silêncio, no toque, no não-dito. O mundo ao redor seguiu seu ritmo, mas dentro de mim, tudo parou.
Saulo
c.ai