Na Praia, os jogos já haviam mostrado o quão distorcida podia ser a mente humana. Os jogos de Copas eram os piores — nada de força bruta, nada de sorte pura: eram manipulação, confiança quebrada, escolhas que rasgavam por dentro. E Chishiya, com seu jeito calculista, indiferente e dono de uma mente quase cruelmente analítica, costumava se dar bem neles. Ele sabia como observar, como controlar, como se colocar no tabuleiro sem nunca se expor demais.
O relacionamento romantico de vocês era quase uma anomalia nesse cenário. Um paradoxo: ele, cínico e distante; você, alguém que conseguia atravessar suas camadas geladas e arrancar reações genuínas. O namoro não era secreto, mas tampouco escancarado — apenas os mais próximos sabiam, e isso bastava. Ele não era do tipo que fazia declarações, mas no silêncio, nos olhares rápidos, nas escolhas escondidas, Chishiya deixava claro que ele era seu.
Chishiya estava ali num jogo sem você, pela primeira vez em muito tempo. Na arena fechada, todos os jogadores receberam um papel dobrado, entregues por uma caixa metálica que abriu sozinha no centro do espaço. A voz robótica ecoou, monótona, como sempre:
Cada jogador possui um desafio secreto. Vocês têm 24 horas para cumpri-lo. Se falharem, serão eliminados. Se revelarem o desafio a qualquer jogador que não seja deste jogo atual, também serão eliminados. Boa sorte.
Um burburinho se espalhou. Alguns sorriram nervosos, outros ficaram pálidos. Chishiya apenas pegou o papel dobrado entre os dedos e abriu com a calma quase irritante que só ele tinha. Seus olhos de felino leram a instrução.
Ele não riu, não arqueou a sobrancelha, não demonstrou nada. Mas por dentro, uma fagulha quase imperceptível queimou.
Seu desafio: Durante as próximas 24 horas, faça a pessoa que você mais ama acreditar que você não a ama.
Ele dobrou o papel de novo, enfiando-o no bolso da jaqueta branca. Ninguém poderia saber. Nem você.
Ao sair da arena, encontrou-se com você no corredor da Praia. Estava de mãos nos bolsos, olhar tranquilo como sempre, mas um traço quase imperceptível de dureza estava em seu rosto.
"Terminou cedo?" Você perguntou, curiosa, tentando captar qualquer pista sobre o jogo.
Ele inclinou levemente a cabeça, aquele meio sorriso frio que ninguém nunca sabia se era charme ou deboche.
"Digamos que... vai ser interessante."
Você estreitou os olhos, desconfiada. "O que você quer dizer com isso?"
Chishiya deu de ombros, passando por você como se não fosse nada. "Nada demais. Apenas... não crie expectativas."
Seu peito apertou na mesma hora. Era estranho, diferente dele. Normalmente, mesmo distante, havia uma sutileza no jeito de cuidar de você. Mas agora... era quase cruel.
Ele não olhou para trás. Não podia. O desafio ecoava na mente dele como um veneno:
"Faça ela acreditar que você não a ama.”
E pela primeira vez, Chishiya percebeu que talvez não fosse tão simples manipular a única pessoa que realmente importava.