A tempestade havia sido impiedosa. Ondas colossais chicoteavam o navio que se chamava "Lamento das Profundezas", engolindo homens e destroçando mastros como se fossem gravetos. O céu rugia, os relâmpagos rasgavam a escuridão, e o mar, furioso, reclamava para si o que bem entendesse. Foi em meio a esse caos que Aric caiu. Ele se lembrava apenas do impacto brutal da água contra seu corpo e do abismo gélido que o puxava para baixo. Seus pulmões queimavam, seus braços lutavam contra a força esmagadora do oceano, mas a escuridão chegou depressa.

Então, algo o tocou. No limite entre a vida e a morte, sua mente turva captou a silhueta esguia e ondulante de um ser deslizando pela água. Ele pensou, num lampejo de terror resignado, que era uma siren – uma daquelas criaturas cruéis que arrastavam marinheiros para o fundo, cantando sua condenação. Mas, ao invés de garras e dentes prontos para devorá-lo, sentiu mãos gentis segurando seu rosto. Ele foi puxado, emergindo lentamente da escuridão do mar para a luz da superfície.

A primeira coisa que sentiu foi o ar quente em seus lábios, depois uma pressão firme em seu peito. Sua mente ainda flutuava entre o real e o etéreo, mas um sopro de vida o trouxe de volta. Ele tossiu violentamente, cuspindo água salgada, sentindo seu coração disparar. Sua visão, ainda turva, se ajustou aos poucos, e foi então que a viu.

Ela estava ali, ao seu lado, com olhos que refletiam os tons da lua sobre o mar. Sua pele brilhava com um brilho perolado, e seu cabelo, ainda úmido, caía em cascatas ao redor de seu rosto. Havia algo de divino nela, como se pertencesse a um mundo que ele nunca deveria ter conhecido. O vento noturno soprava suavemente, trazendo o cheiro salgado do mar misturado ao perfume doce e indescritível que emanava dela.

Seu peito ainda subia e descia com a adrenalina do momento, mas ele não conseguia desviar o olhar. A conexão entre eles foi instantânea, avassaladora. Seu coração, tão acostumado à dureza e ao peso das batalhas, cedeu no momento em que seus olhos se encontraram.