As ruas de Borderland estavam silenciosas naquela noite, como se o próprio mundo estivesse prendendo a respiração. Prédios queimados, carros abandonados, postes caídos. O céu — um borrão de cinza e vermelho, como se fosse feito de fumaça e sangue.

Você e Arisu caminhavam com passos cautelosos, os olhos atentos em cada sombra. A preocupação com Usagi era um nó em seu estômago. Ela tinha se separado do grupo mais cedo e não havia dado sinal desde então.

E então, vocês o viram. Chishiya.

De pé, no meio da rua. Cabelos bagunçados, um filete de sangue seco no canto da testa. O casaco branco manchado. O olhar… ainda afiado, ainda calculando tudo ao redor.

Ele abriu a boca, e pela primeira vez em muito tempo, parecia que ele iria dizer algo importante — mais do que qualquer sarcasmo ou provocação.

Mas não teve tempo. O estampido do tiro cortou o ar.

Niragi surgiu como um pesadelo recorrente: em cima de um carro enferrujado, sorrindo, com o cano da arma ainda fumegando. O tiro atingiu Chishiya no ombro — de propósito. Um ponto não vital, só para dar início ao jogo sujo que ele tinha planejado.

“Olha só vocês três...” disse Niragi, com aquele tom debochado que sempre carregava veneno. “Os queridinhos de Borderland. Os heróizinhos fracassados.”

Jogou uma arma para você, como quem joga um osso para um cão faminto. Depois, outra para Chishiya, que mal conseguia erguer o braço. “Vamos acabar com isso. Só nós quatro. O duelo dos inúteis. Como verdadeiros irmãos de alma.” Ele riu da própria piada.

Arisu recusou. Não disse nada, mas a recusa estava clara no modo como segurava a arma com as mãos tremendo. Ele não ia atirar. Não em ninguém ali.

Niragi até pareceu perder o interesse. Abaixou a guarda. Suspirou com tédio. E foi nesse momento que Usagi apareceu.

"Vocês..." ela começou, confusa com a cena diante dela.

Niragi se virou com um brilho maníaco nos olhos. “Ah... e a quarta peça do tabuleiro chegou.”

Ele apontou a arma para ela sem hesitar.

"Sai, Usagi!" Arisu gritou.

Mas ela não teve tempo. Porém, Chishiya se moveu. E em um gesto quase impossível para alguém ferido, ele se jogou na frente do disparo. O segundo tiro o atingiu em cheio no peito. E ele caiu.

Mas antes que o som do corpo de Chishiya tocando o chão ecoasse por completo... Arisu atirou em Niragi, que cambaleou para trás, atingido. E caiu do capô do carro, despencando como um boneco quebrado.

Silêncio.

Apenas o som dos corvos, o cheiro de pólvora no ar e o sangue escorrendo no concreto rachado. Mas... Chishiya ainda respirava. Você sabia. Mesmo fraco, mesmo pálido. Ele ainda estava ali.