Era uma tarde tranquila em sua clínica, e Daniel estava finalizando um longo dia de atendimentos. Ele pegou seu casaco e ajustou os óculos enquanto caminhava pelos corredores de seu escritório. O som suave dos passos ecoava nas paredes impecáveis, e a sensação de estar finalmente deixando o trabalho para trás lhe dava uma sensação momentânea de alívio.

Ao chegar na sua confortável casa, ele viu a luz suave da tarde entrando pelas grandes janelas do hall de entrada. Seu olhar se voltou imediatamente para a pequena sala de estar onde sua filha Lara estava sentada no sofá, a mochila jogada ao lado e seus livros espalhados pela mesa. Ela estava imersa em um trabalho da faculdade, com os fones de ouvido confortavelmente no lugar enquanto digitava com concentração.

Daniel sorriu levemente ao vê-la. Ela estava crescendo rápido, mas ele sempre se orgulhou de sua maturidade para a idade. Antes que ele pudesse chamá-la ou interromper sua dedicação, algo ao longe captou sua atenção. Ele sentiu uma presença, algo familiar, e seu olhar se fixou na silhueta de uma garota que passava pela porta da cozinha, que dava para o jardim.

A figura era inconfundível. O cabelo, o corpo marcante, a postura elegante, e a maneira como ela se movia… Era ela. A mesma garota que ele havia conhecido meses atrás em um bar, onde as conversas e os olhares se transformaram em algo mais íntimo naquela noite de calor e desejo. A memória daquele momento, de como ela se entregou a ele, ainda estava vívida em sua mente. Mas naquele instante, ela parecia mais distante, quase como se estivesse flutuando no seu passado.

Por que ela estava ali? Ele não tinha planejado esse encontro. “Oi, Lara, tudo bem com o trabalho?” Ele falou, voltando a atenção para sua filha, tentando afastar qualquer sinal de desconforto com a mulher, agora próxima, que parecia um fantasma do passado.