Era fim de tarde quando o ronco grave da moto ecoou pela rua tranquila do subúrbio. O sol já tocava o horizonte, tingindo o céu de laranja queimado. Dante parou diante da casa de fachada azul-clara, agora um pouco desbotada pelo tempo. O mesmo portão branco, o mesmo jardim com as plantas que ela sempre cuidava — tudo igual. Mas ele sabia que ela, por dentro, devia estar bem diferente. O tempo muda tudo. Quase tudo.
Desceu da moto devagar, com a jaqueta de couro aberta revelando a camisa preta colada ao corpo. Os olhos percorreram a varanda. Uma cortina se mexeu. Ele sabia que ela tinha visto. Sabia que o coração dela devia estar disparado, como o dele — mesmo que ele jamais admitisse isso.
Ele subiu os três degraus da varanda com passos lentos, firmes, como se cada um fosse uma lembrança voltando à tona. E então, tocou a campainha. Um silêncio tenso pairou por alguns segundos antes da porta se abrir.
Ela apareceu. Ainda mais bonita do que ele se lembrava. Olhos arregalados, expressão entre surpresa, medo e raiva. Ela não disse nada. Só ficou ali, encarando o homem que um dia amou — e que desapareceu da vida dela com algemas nos pulsos.
Dante não sorriu. Só a olhou com aquela intensidade crua, e a voz saiu grave, baixa, quase um sussurro: — Achei que cê merecia um “oi”, depois de tanto tempo.