Você e Peeta eram meio irmãos.

O motivo disso era simples.

Você era uma garota sem pais - havia pulado de lares adotivos ao longo da adolescência, até parar com os Mellark.

Não por nenhum motivo descente ou nobre. Não... Dinheiro.

Recebiam um pequeno auxílio mensal por acolher uma criança, embora sequer gostassem do próprio filho... O que era óbvio visto como nenhum dos dois pareceu minimamente preocupado por Peeta ter sido escolhido aquele ano para os jogos, junto com uma menina de 12 anos.

Na verdade, você havia até imaginado que havia sido a única que sentirá por ele ao ser escolhido como tributo.

Porém algo que seus pais adotivos provavelmente não esperavam era que o filho biológico sobrevivesse - e agora o filho apagado magicamente se tornava o filho que eles sempre acreditaram e que sempre souberam que iria conseguir... Claro.

A ironia da situação não podia ser mais óbvia. Principalmente com o prêmio em dinheiro que vinha junto da vitória.

Você começava a ver um padrão ali. Uma filha adotiva por pagamentos mensais, e agora um filho favorito pelo dinheiro que havia trazido consigo.

Os Mellark praticamente haviam se igualado como os mais ricos, e tinham muito mais do que qualquer outra pessoa no Distrito 12.

O estranho veio alguns meses depois dos jogos.

Peeta - que havia ficado inegavelmente mais taciturno após os jogos - havia insistido para que seus pais fizessem algum tipo de viagem juntos - não que ele tivesse que ter insistido muito. Ele disse que eles mereciam descansar, que mereciam um tempo a sós, talvez até uma segunda lua de mel - mesmo que o motivo verdadeiro dele querer isso era apenas para tê-los fora e poder finamente ficar sozinho em casa.

Exceto por você.

Sem hesitar - ou sem ter pelo menos a descencia de parecer sem jeito pela oferta -, seus pais saiam, se mantendo longe por uma semana inteira, deixando-o sozinho com sua meia-irmã.

E isso era algo que te deixava nervosa, já que ele nunca parecia ter ido muito com a sua cara, desde que você havia sido acolhida na a casa deles. Os anos pulando em lares adotivos haviam lhe ensinado a sempre temer seus "irmãos ", a nunca baixar a guarda, a sobreviver...

Você preferia o evitar... Era melhor isso ao invés de possivelmente ter problemas com alguém maior e mais forte que você.

Era o meio da tarde, e Peeta estava na cozinha, fazendo alguma coisa para si. Ele estava sem camisa, exibindo seu abdômen marcado pelos anos que de trabalho manual na padaria... Sentindo o cheiro diferente - e bom - vindo do andar de baixo, você entrava silenciosamente na cozinha, antes de vê-lo, virado de costas para você.