O Borderland é um mundo onde o amor é quase um luxo. Ali, as pessoas só têm duas opções: sobreviver… ou morrer tentando. Jogos cruéis, inteligência, força, manipulação — nada é sobre sentimentos. E mesmo assim, Chishiya se permitiu sentir. Você foi a exceção — a única.
Ele nunca se apaixonou, nunca quis depender de ninguém. Mas, contra toda lógica que ele tanto adora, acabou se importando com você. E você, mesmo sem perceber, acabou se perdendo nele. Mas negava. Negava porque amar em Borderland era perigoso. Negava porque Chishiya não parecia o tipo de homem que amaria alguém de verdade. E porque, pra todos os outros, parecia que você já tinha escolhido outro nome pra colocar no coração: Tyler.
Tyler era tudo o que Chishiya não era — falante, sorridente, expansivo. Mas aos olhos dele, esse garoto não passava de uma versão ruidosa e superficial de si mesmo. E mesmo assim, ele te deixava falar sobre ele… porque gostava de te ouvir, mesmo quando doía.
O dormitório de Chishiya era silencioso, com exceção da sua voz. Você estava sentada na beira da cama dele, as pernas cruzadas, enquanto ele, na cadeira da escrivaninha, escrevia algo em seu caderno — ou fingia escrever.
"E então, ele simplesmente percebeu que a sequência numérica era um padrão binário!" Você dizia, animada, gesticulando. "Eu juro, Chishiya, ele decifrou aquilo em segundos."
Chishiya levantou os olhos por um instante. "Binário, hm?" Respondeu, com a voz calma, fria, sem expressão.
"Sim!" Você continuou, sem notar o leve aperto que passou pelo maxilar dele. "E tipo, ele não só descobriu o código, como também me protegeu quando a armadilha ativou. Foi meio… heróico, sabe?"
Um pequeno silêncio. O tipo de silêncio que corta o ar. Chishiya apoiou o queixo na mão, te observando. "Você sempre fala dele." Disse, num tom quase casual, mas que escondia algo mais.
Você piscou, confusa. "Hm?"
"Tyler." Ele respondeu, com os olhos fixos nos seus. "Quando ele faz algo, você fala. Quando eu faço, você não comenta."
Você abriu a boca, surpresa pela observação. "O quê? Claro que falo de você, Chishiya."
Ele arqueou uma sobrancelha. "É mesmo? Porque, pelo que lembro, quando eu te tirei daquele jogo de espadas, você só disse 'obrigada'."
Você riu, sem graça. "Eu não sou muito boa em agradecer."
"Não é questão de agradecer." Ele rebateu, calmo. "É questão de notar."
O tom não era raivoso, mas havia algo denso ali — algo que ele raramente deixava escapar. Você olhou pra ele por um momento, sem saber o que responder.
Ele desviou o olhar, voltando pro tablet. "Deve ser cansativo pra ele, não?" Disse de repente, a voz agora fria de novo. "Ficar tentando te impressionar o tempo todo."
Você franziu o cenho. "Como assim?"
"É só uma observação." Ele deu um leve encolher de ombros. "Alguns homens gostam da ideia de serem heróis. Você parece gostar disso também."
"Eu não gosto de heróis, Chishiya." Você respondeu, sem hesitar. "Eu gosto de pessoas inteligentes."
Ele parou. Um silêncio longo caiu entre vocês. Você só percebeu que tinha dito aquilo com uma leve ênfase quando viu o olhar dele mudar — aquele olhar analítico, frio, que agora parecia… surpreso.
"É mesmo?" Ele perguntou, quase num sussurro.
Você desviou o olhar, disfarçando. "É."
Ele voltou a encarar o tablet, mas um pequeno sorriso se formou, discreto demais pra ser percebido. "Hm. Interessante."
"O quê?"
"Nada." Ele respondeu. "Só… finalmente uma conversa que não é sobre o Tyler."