hyunjin tava no consultório dele, quase dormindo em cima da mesa. o plantão tava arrastado, a madrugada parecia infinita, e ele já tava no modo automático — até o ipad vibrar com o alerta da triagem.
ele nem queria olhar, mas clicou.
urgência nível laranja — choi kai.
ele congelou.
foto da triagem: kai sentado numa cadeira, o moletom meio torto, o rosto completamente pálido, a testa grudada de suor. o olhar de quem tá prestes a morder alguém. no campo “profissão": enfermeiro — setor pediatria. no campo “acompanhante": mãe de hwang hyunjin. sintomas: vômitos frequentes, febre alta, tontura, desmaio breve.
hyunjin bateu a mão na mesa, irritado.
“não. não, não, não… kai, hoje era sua folga, caralho…”
ele levantou tão rápido que derrubou a caneta. saiu atravessando o corredor, passando por dois residentes que se encolheram só de ver a cara dele. quando chegou perto da sala de observação, ouviu a mãe dele do lado de fora, reclamando:
“ele tava branco! branco! esse menino cuida de criança o dia inteiro e não sabe se cuidar!”
hyunjin respirou fundo e empurrou a porta.
e lá tava ele.
kai, enfermeiro querido das crianças, terror dos adultos, agora reduzido a um gato molhado febril sentado numa maca, braço no soro, a cara fechada igual tempestade.
ele levantou o olhar devagar, com ódio e vergonha misturados.
“hyunjin… eu tô com raiva.”
“eu percebi,” hyunjin respondeu seco. “você desmaiou.”
“eu NÃO desmaiei. eu… sentei no chão por um momento. rápido.”
“você caiu. minha mãe viu. e te trouxe pra cá.”
kai mordeu o lábio, irritado.
“era minha folga, hyunjin. MINHA folga. eu queria dormir. eu só queria dormir.”
“e você passou a madrugada vomitando,” hyunjin rebateu. “vem. salinha.”
kai bufou tão dramático que até o soro balançou.
mas levantou.
ele caminhou atrás de hyunjin com passos pesados, cansados, febris. no caminho, duas técnicas de enfermagem reconheceram ele e fizeram aquela cara de “ai meu deus, o kai tá doente?”. kai apertou os olhos, humilhado.
hyunjin abriu a porta da salinha de exame e apontou a maca.
“senta.”
kai sentou. cruzou os braços. fechou a cara mais ainda.
“não acredito que eu tô nesse hospital. no MEU hospital.”
hyunjin pegou o estetoscópio.
“tira a camisa.”
kai imediatamente negou.
“não. hyunjin. não vou. eu sou funcionário, não modelo da playboy.”
hyunjin apenas levantou uma sobrancelha — aquele olhar que fazia residentes chorarem.
“kai.”
“o que.”
“tira.”
kai murmurou uns palavrões baixinho e puxou a camiseta, irritado, febril, vermelho de vergonha. jogou o tecido num canto.
hyunjin travou um segundo, vendo o peito dele subir rápido, a pele quente, o jeito mole de febre. mas retomou.
“respira fundo.”
“não quero.”
“kai.”
“tá. porra.”
kai respirou fundo, mas encarando hyunjin com pura raiva. o metal gelado encostou na pele quente dele e kai tremeu.
“frio,” ele reclamou.
“não perguntei.”
hyunjin deslizou o estetoscópio pro lado, ouvindo o chiado no pulmão.
“pulmão ruim. febre alta. você tá desidratado. devia ter vindo antes.”
kai virou o rosto.
“eu tava de folga.”
“então você aproveitou a folga pra quase morrer?”
“me deixa em paz, vai.”
hyunjin segurou a camiseta no momento que kai tentou vestir.
“vira. costas.”
kai jogou a cabeça pra trás, exasperado.
“eu sou enfermeiro, hyunjin. eu sei como isso funciona. eu odeio ser paciente. eu NÃO nasci pra isso.”
“vira,” hyunjin repetiu, impaciente.
kai virou, resmungando, e a respiração dele vacilou um pouco. a febre tava forte. hyunjin encostou o estetoscópio nas costas dele, devagar.
“respira.”
kai respirou. mais fraco dessa vez.
quando hyunjin terminou, tirou o aparelho e colocou a mão na nuca de kai — quente, suada, vulnerável de um jeito que ele nunca deixava ninguém ver.
“você devia ter falado comigo.”
kai ficou em silêncio um momento. depois:
“não queria atrapalhar seu plantão… você fica todo sério quando tá trabalhando… eu… sei lá.”
hyunjin virou ele de volta, segurando o queixo dele com o polegar.
“você nunca me atrapalha.”