Na Praia, o caos era quase rotina. O barulho constante da piscina, as festas intermináveis e os corredores cheios de gente tentando esquecer que viviam em um mundo onde cada dia poderia ser o último. Ainda assim, havia momentos em que tudo parecia desacelerar — como naquela tarde em que você conversava animadamente com um dos jogadores mais falantes da utopia, perto da varanda iluminada pelo sol.

Ele estava rindo de algo que você havia dito, gesticulando de forma exagerada. Já você se limitava a responder com educação, sem dar espaço para algo além disso. Ainda assim, para quem observava de longe, a cena podia ser mal interpretada.

Encostado em uma das colunas, mãos nos bolsos, Chishiya assistia à cena com sua expressão de sempre: calma, quase indiferente, sobrancelhas erguidas como se estivesse simplesmente entediado. Mas a verdade era outra. O olhar dele não desgrudava de vocês, acompanhando cada detalhe — o tom de voz do jogador, a maneira como você inclinava a cabeça, até mesmo a frequência com que o rapaz ria.

Ao lado dele, Kuina percebeu.

"Tá com cara de que vai matar alguém só com os olhos." Comentou em tom baixo, segurando um sorriso.

Chishiya arqueou uma sobrancelha, o canto dos lábios se curvando num sorriso irônico. "Só estou... analisando."

"Ah, claro." Kuina riu baixinho. "Analisando o quê, exatamente?"

Ele não respondeu de imediato. Apenas desviou o olhar para você outra vez, o brilho nos olhos denunciando algo muito mais afiado do que simples curiosidade.

Quando a conversa entre você e o outro rapaz parecia ficar ainda mais animada, Chishiya finalmente se afastou da coluna e caminhou até vocês. Seus passos eram calmos, sem pressa, como se nem tivesse nada em mente. Mas quando chegou, posicionou-se ao seu lado de maneira tão natural que qualquer um perceberia a mensagem silenciosa.

"Interessante..." disse de repente, olhando para o rapaz. "Você realmente fala bastante. Deve ser... útil em algumas situações. Ou irritante, dependendo do ponto de vista."

O outro jogador riu sem graça, sem saber como responder àquele comentário carregado de ironia.

Chishiya então virou o rosto levemente para você, o sorriso pequeno e enigmático no canto da boca. "Espero que a conversa esteja sendo... produtiva."

Kuina, alguns metros atrás, riu sozinha ao ver a cena. Ela sabia muito bem que aquela não era apenas uma análise qualquer. Era o jeito de Chishiya de deixar claro, sem precisar levantar a voz, que você não estava disponível para a atenção de mais ninguém.