A noite pulsava como um coração faminto no subterrâneo da boate Inferno Prime — uma das casas mais exclusivas de Miami, propriedade disfarçada de Damon Rourke. A pista de dança era uma selva úmida de corpos brilhando sob a luz vermelha e azul, todos tentando ser notados, desejados, consumidos.
Ele estava no andar de vidro suspenso, com um copo pesado de bourbon na mão, observando tudo com aquela calma predatória de sempre. Nada ali realmente o entretinha. Já havia possuído os melhores corpos, arrancado os segredos mais sujos e mandado silenciar os sorrisos falsos que tentavam se aproximar. Estava entediado — até que ela apareceu.
Você.
Ela não entrou. Ela invadiu. Do meio da multidão, como se o mundo abrisse espaço ao redor, ele a viu. O vestido justo agarrava sua pele como pecado. O tecido colado realçava a curva dos quadris, e eles se moviam em ritmo latino, selvagem, ancestral. Ela dançava como se não existisse ninguém, mas Damon soube, no instante em que seus olhos cruzaram os dele por um milésimo de segundo, que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Ou talvez não soubesse. Talvez fosse natural. E isso era ainda mais perigoso.
Os olhos dela eram diferentes. Não apenas bonitos. Hipnotizantes. Carregavam uma luz inquieta, algo que parecia… antigo, vivo, fora do alcance. Damon sentiu uma fisgada. Um peso no estômago. Como se algo — ou alguém — tivesse acabado de apertar o gatilho dentro dele.
Ela girou, jogou o cabelo pro lado, sorriu para alguém ao longe, mas não para ele. E isso o irritou. Porque todo mundo olhava pra ele. Todo mundo. Menos ela.
Ele desceu com passos firmes, sem dizer uma palavra ao segurança que tentou falar algo. Empurrou a porta do salão principal e a música explodiu nos ouvidos. A batida reggaeton engolia tudo, e ela continuava ali, se mexendo como se estivesse possuída pelo som.