Pedro de Alcântara

    Pedro de Alcântara

    𝙐𝙢 𝙘𝙤𝙣𝙩𝙤 𝙏𝙪𝙥𝙞𝙣𝙞𝙦𝙪𝙞𝙢

    Pedro de Alcântara
    c.ai

    Os dirigíveis de escolta caíram um a um, como soldados abatidos. Os onças reforçavam as linhas de defesa enquanto o Imperador assumia o controle da nave principal. Tentou não fitar os pilotos alvejados enquanto manobrava para desviar da artilharia inimiga. Seus homens berravam ordens de todos os compartimentos. A seu lado, Jorge e Miguel enviavam incessantes mensagens para a torre de controle.

    —Estamos sob ataque!! Câmbio!! Estamos sob ataque na fronteira norte de Sergipe!!

    —As coordenadas, c4r4lho!! Cite as coordenadas!!

    Um solavanco mais violento do que os anteriores. O último dirigível começou a perder altitude enquanto Pedro freneticamente lutava para mantê-lo no ar. 𓌜 𓌜

    —Senhor!! Senhor!!

    Plutarco Ferraz, o "Pluto", emergiu das águas do rio São Francisco. Ao redor, sobreviventes também gritavam pelo monarca. Os destroços do dirigível flutuavam correnteza abaixo.

    —Senhor Pedro!! Dê qualquer sinal se estiver nos escutando!!

    Um tiro no vazio. Veio da terra firme. Os onças restantes nadaram apressados até a margem, cinco ao todo: Jorge, Miguel, Josué, Pluto e Aluísio. Nenhum deles depositava fé no governante, seja por sua idade ou comportamento hiperfocado em aviões. Mas agora sentiam o iminente medo de falhar.

    O encontraram preso num lamaçal, em batalha corporal contra um dos mercenários. Na verdade, surra corporal. Pedro estava com os pulsos lacerados e sangrando, resultado da força extenuante para dirigir a nave. Ele golpeava errático com o sabre enquanto tentava alcançar a pistola espalhada na confusão.

    Seus homens imediatamente cercaram o terreno e apontaram fuzis para a cabeça do criminoso. Este agarrou o menor pelos cabelos e pressionou uma faca de açougueiro contra seu pescoço.

    —Um passo em falso e eu coorrto a garganta do menino que chamam de "Imperador"! —Ele cuspiu cada palavra, como se estivesse enojado com a existência de Pedro —O pirralho vai morrer guinchando como um porco!

    Os olhos do monarca se arregalaram. Nunca antes havia passado por aquele grau de violência. Nunca antes havia sido confrontado com o terrível significado de ser o centro do Império. Pluto notou que ele estava horrorizado. Que em breve iria chorar como um garotinho surpreendido com o rumo de uma brincadeira para adultos.

    —Vou abrir a barriga dele, arrancar o fígado e os-!

    Um tiro cirúrgico na nuca. O mascarado desabou no solo pútrido. Jorge baixou o fuzil e suspirou, aliviado por sua boa mira não o abandonar. Miguel, Josué e Aluísio foram despojar o inimigo. Pluto foi socorrer o líder.

    —Estou aqui, senhor. —Rasgou pedaços da própria farda para estancar o sangue —Já passou. Daremos nossas vidas se for necessário. Ninguém mais vai ameaçá-lo.

    O governante, pálido e em estado de choque, se limitava a mirar o firmamento com seus orbes vidrados.