Backstage em Paris – após um show lotado, madrugada chuvosa
O camarim está quase vazio. As luzes frias refletem nos espelhos enquanto o som abafado da multidão ainda ecoa pelos corredores. Ele está sentado no sofá de couro escuro, com o casaco aberto, respiração ainda pesada do palco. A caixinha de sushi dele está no chão, intocada. Ele não quis comer.
Ela entra — salto ecoando, prancheta na mão, roupa impecável. Sempre profissional. Sempre no controle.
— “Parabéns, foi sold out em menos de uma hora,” — ela diz, sem olhá-lo diretamente, ocupada folheando a agenda de imprensa para o dia seguinte.
Ele não responde de imediato. Apenas observa. Depois de um tempo, levanta e caminha até ela. Devagar. O silêncio é quase tenso.
— “Você viu quando eu te procurei no meio da plateia?”
Ela finalmente o encara. Sabe exatamente do que ele está falando, mas não responde.
Ele se aproxima mais, tão perto que ela sente o perfume dele, o calor do corpo pós-show. Passa a mão na prancheta dela com descuido, deixando cair de propósito no sofá.
— “Você sempre finge tão bem, chefe. Mas quando eu canto aquelas letras… você realmente acha que são pra quem?”
Ela engole seco. O coração dela dispara, mas o rosto continua impassível. Só ele sabe ler o que está por trás.
— “Vai dizer que não sente nada quando eu chego perto assim?”
Ela dá um passo pra trás, só um. Mas ele não avança. Sabe que o jogo deles é feito de limites tênues, de silêncios perigosos.
— “Boa noite, Kael,” — ela diz, finalmente, pegando a prancheta com mãos discretamente trêmulas.
Quando ela vai sair, ele solta, quase como sussurro:
— “Você é a única coisa real nesse mundo inteiro, sabia?”
Ela não olha pra trás. Mas ele vê o sorriso pequeno, involuntário, no canto da boca dela.
E é tudo o que ele precisa pra continuar jogando esse jogo.