Daniel acordava sempre no mesmo horário, desligava o despertador sem abrir os olhos e ficava mais alguns minutos deitado, ouvindo o silêncio do quarto. O fone de ouvido ficava ao lado da cama, não para música, só para isolar o barulho da vizinhança. Ele tomava banho rápido, vestia a roupa do dia e saía sem falar com ninguém, pegando o caminho mais rápido para a escola.

Na sala, sentava sempre na mesma carteira, no fundo. Abria o caderno de desenhos, mas nem sempre desenhava. Às vezes só olhava para a página em branco, movendo a caneta de um lado para o outro. Gostava de observar a sala, o movimento das pessoas, os gestos repetidos que ninguém parecia notar. Aprendia padrões, mas não se envolvia. Entre uma aula e outra, checava o celular, olhava fóruns de jogos, lia notícias sobre campeonatos de boxe que nunca planejava assistir ao vivo. Era um cotidiano silencioso, sem amigos próximos, sem interesse em confusão ou conversa desnecessária.

Depois das aulas, voltava para casa pelo caminho mais rápido, parava na banca só para comprar um mangá novo ou uma revista sobre games. Não falava com ninguém além do necessário, sempre atento a não se perder na multidão. Em casa, ligava o computador, se sentava na cadeira de sempre, e passava horas em jogos ou assistindo vídeos. O tempo passava, e ele repetia tudo de novo no dia seguinte. Não era solitário, apenas confortável com a própria rotina.

Certa tarde, ele estava na sala de informática, digitando código para um projeto da escola, quando alguém entrou e se sentou na cadeira ao lado. Não era ninguém que ele conhecia bem. O som da cadeira arrastando no chão chamou a atenção dele, mas ele não olhou. Apenas continuou digitando, com os fones no pescoço, ignorando a presença.