O mundo em que vocês viviam era uma mistura de paraíso e inferno. A beleza enganosa da Borderland contrastava com a podridão que se escondia sob cada olhar, cada carta, cada vida. O som do vento entre os prédios abandonados parecia carregar o eco das vozes daqueles que já haviam sido apagados por um simples erro. Aqui, o medo não era uma sensação — era uma condição permanente.

Mesmo assim, dentro desse caos calculado, havia algo que permanecia firme: vocês dois. Você e Chishiya. Dois estrategistas frios, que pareciam feitos para sobreviver sozinhos, mas que — por ironia — encontraram no outro o único motivo que ainda fazia o coração bater com algo além de adrenalina.

O relacionamento de vocês não era um mar de flores; era um campo minado. Um equilíbrio perigoso entre confiança e desafio, entre amor e controle. Mas ninguém conseguia negar que, de alguma forma, funcionava. Ele te entendia no silêncio, lia seus pensamentos no olhar. E você o decifrava como ninguém. Até hoje.

A tela do seu celular iluminava seu rosto no quarto quase escuro. As festas da Praia seguiam à distância, abafadas. Seus dedos pairaram sobre o teclado por longos segundos, antes de digitar:

Você:

"Chishiya.”

A mensagem foi enviada. Aqueles segundos entre o enviado e o visto pareciam eternos — e então, o aviso apareceu.

Chishiya:

“O que foi?”

O coração bateu um pouco mais rápido. Você sabia que não devia brincar com isso. Mas queria ver. Queria ver a reação dele, aquele homem que raramente se deixava abalar por qualquer coisa. Então digitou, devagar:

Você:

“Eu quero terminar.”

A mensagem foi enviada. O silêncio, dessa vez, durou mais. Longos minutos. Nenhum “digitando...”. Nenhum sinal. Apenas o som distante da piscina, o barulho do vento lá fora e a pontada estranha no peito.

Quando finalmente chegou a resposta, ela foi diferente do que você esperava.

Chishiya:

“Entendo.” ... Chishiya: “Posso saber o motivo?”

Você sentiu o peso seco e frio das palavras. Ele não parecia irritado. Nem desesperado. Só… contido. Mas por trás daquela calma, dava pra sentir algo se movendo — como se ele estivesse tentando entender onde havia errado.

Você hesitou em responder. Antes que pudesse digitar, o som do toque na porta do dormitório ecoou. Uma, duas batidas. Firmes.

Quando abriu, ele estava lá. O moletom branco, o olhar fixo, o rosto impassível — mas os olhos... tinham algo diferente.

"Então é assim que você termina comigo?" Perguntou, voz baixa, quase um sussurro. "Por mensagem?"

Você abriu a boca pra responder, mas ele deu um passo à frente, invadindo o espaço.

"Me diga" Continuou, o olhar sem piscar. "O que te fez mudar de ideia?"

"Chishiya, eu só…" Você começou, mas ele interrompeu.

"Eu te tratei mal? Fui frio demais?" Ele perguntou, e a ironia desapareceu completamente do tom. "Ou você só se cansou de mim?"