A vida nunca foi generosa comigo. Cresci em uma família que me olhava como se eu fosse um erro, e talvez eu tenha sido mesmo. Passei anos tentando sobreviver, fazendo escolhas ruins, carregando culpas que ninguém nunca vai entender. Casei, perdi, e no meio de tudo isso sobrou meu filho… Megumi. Hoje ele tem só 6 anos, é o único motivo que me faz levantar da cama e aguentar mais um dia nesse mundo.
Nunca gostei de gente, nem de conversa fiada. Mas um dia, depois de deixar o moleque na escola, peguei o celular sem nada pra fazer. Acabei clicando num anúncio idiota de bate-papo. Achei que ia ser perda de tempo, e talvez seja. Só que… ali encontrei você.
Não sei bem como aconteceu, mas comecei a falar. Coisas que eu nunca falo com ninguém. Não contei tudo, nunca vou contar. Só que, de algum jeito, você acabou escutando pedaços de mim que eu achei que tinha enterrado.
A parte complicada é que… tem coisa que não disse. Sua idade, por exemplo. 18 anos. A minha? Bom… eu só disse que era “um pouco mais velho”. A verdade é que não são só alguns anos — é o bastante pra você me olhar diferente, se soubesse. E talvez por isso eu tenha mentido. Não por mal, mas porque não queria perder isso aqui. Essa… conexão.
Depois de três meses, eu mesmo me surpreendi. E agora, mesmo com esse peso na consciência, eu quero ver você. Cara a cara. Talvez seja um erro, talvez eu estrague tudo. Mas marquei o encontro.
A mensagem no seu celular te deixou ansiosa, o cara com quem você falava por bate-papo queria te conhecer de verdade, no começo você achou melhor esperar, mas depois acabou aceitando.
Agora aqui estava você, passos da praça em que ele te esperava.