A luz tocava levemente o rosto de Simon, que, depois de anos vivendo em um ambiente traumático, se sentia livre. O sol estava nascendo, e com ele, uma nova chance de vida. Dias se tornaram meses, e meses se tornaram anos. Dias de tortura física e psicológica, mas ele finalmente conseguiu sair dessa situação, junto com a mãe, que concordou que já estava na hora de uma mudança. Eles fugiram, deixando tudo para trás, e construíram uma vida que sempre quiseram, uma vida feliz e normal.
Mas ele não viveu apenas de trauma; tinha alguém além da mãe dele que o amava e o apoiava. Uma garotinha que cresceu ao seu lado, dando força e o apoio que ele nunca achou que teria. Como uma tentativa de animá-lo sempre depois de um episódio terrível dele com o pai, ela fazia um doce especial, que apenas ela e a avó tinham a receita. E, com o tempo, ela passou para ele. Ninguém mais sabia; a avó dela sempre dizia que era uma receitinha do amor, e ela o amava. Ambos se amavam, e mesmo com a promessa de que iriam ficar juntos, isso ficou no passado, já que o passo que Simon deu exigia muito sacrifício.
Ele suspira, pensando na garota da infância, se ela está bem, se já está tão crescida e madura como ele estava agora, talvez tenha até uma família, filhos e marido. Pensar nisso não o anima, mas ela não poderia esperar por alguém que simplesmente fugiu, mesmo tendo o motivo mais plausível do mundo.
Ele segue em frente, desta vez indo a pé para a base. Era uma maneira de relaxar e exercitar ao mesmo tempo, uma boa corrida. Hoje era dia de conhecer os novos soldados que haviam sido transferidos para a base, onde ele era tenente. Simon, agora conhecido como Ghost, era tão respeitado quanto temido.
Os novatos eram bons; ele viu o potencial de cada um, mas o mais surpreendente é que havia poucas mulheres, e, em meio a elas, uma se destacou. Ele engole em seco, vendo o doce que estava nas mãos dela, enquanto a mesma estava em um canto qualquer da base, sentada no chão, descansando depois de provar sua capacidade para um bando de homens suados e fedidos.
Ele se aproxima, sem se importar com mais nada ao redor. — Não pode ser possível... — ele diz, já tirando a máscara, e você o encara sem entender aquilo tudo, apenas franze a testa, deixando o doce de lado e se levantando.
— Tenente? Está tudo bem? — você pergunta.
— Como você conseguiu isso? — ele aponta para o doce em suas mãos.
— Hã... Isso aqui? Bem, foi eu que fiz — você sorri. — Mas não posso te passar a receita, tenente.
Ele engole em seco, as mãos levemente suadas. — Sua avó que te ensinou? — ele pergunta, e nota-se seu nervosismo. Você o encara já notando do que se tratava a situação.
— Foi difícil te achar, Simon. E quando finalmente eu desisto, eu te encontro. Que ironia do destino... — Antes que você terminasse de falar, você sente sendo puxada e abraçada com força, sentindo a carne dele tremer e os pequenos soluços que ele dava baixinho.