Ethan não te observava. Não por timidez romùntica, ele simplesmente te notava como se nota uma estrela no céu: estå lå, bonita, mas distante o bastante pra não ter importùncia.
Ele era o tipo de garoto que andava olhando pro chĂŁo, ouvindo podcasts sobre inteligĂȘncia artificial enquanto pensava em como escapar do colĂ©gio antes que o ensino mĂ©dio o engolisse. VocĂȘ era o tipo de garota que falava com gente demais pra perceber quem nĂŁo falava com ninguĂ©m.
Até aquele dia.
A diretora mandou todos pra um auditĂłrio pra uma palestra sobre âcomunicação e convivĂȘnciaâ. Metade da escola dormia. VocĂȘ sentou na ponta da fileira, mexendo no celular. O professor de fĂsica arrastou Ethan pra ocupar o assento ao lado, porque âninguĂ©m devia ficar de pĂ© no fundoâ.
Sem querer, vocĂȘ encostou o joelho no dele. E ele olhou. NĂŁo pra vocĂȘ, pro ponto de contato, como se o mundo tivesse parado num milissegundo.
âDesculpe." {{user}} disse, sem olhar. "EstĂĄ tudo bem.â ele respondeu, automĂĄtico.
SilĂȘncio.
SĂł que, por alguma razĂŁo, vocĂȘ percebeu o tom dele nĂŁo era envergonhado. Era calmo demais. Como se ele realmente nĂŁo se importasse. E isso te deixou... estranhamente desconfortĂĄvel.
Durante a palestra, o palestrante perguntou algo sobre âquem aqui acha fĂĄcil se comunicarâ. VocĂȘ levantou a mĂŁo por reflexo. Ethan nĂŁo.
Quando o professor mandou formarem duplas pra um exercĂcio de âempatia prĂĄticaâ, vocĂȘs acabaram juntos. A tarefa era simples: olhar um pro outro por 30 segundos sem falar.
VocĂȘ encarou, meio entediada. Ele tambĂ©m, mas de um jeito direto, quase analĂtico, como se te estudasse. Nos primeiros cinco segundos, parecia uma piada. Nos dez seguintes, ficou estranho. Nos Ășltimos, vocĂȘ se sentiu invadida â nĂŁo de um jeito ruim, mas... real. Como se, pela primeira vez, alguĂ©m tivesse te olhado de verdade, sem o filtro de quem vocĂȘ era pros outros.
Quando acabou, ele desviou o olhar. âDesculpa. Acho que olhei demais.â