O internato católico St. Augustine’s College, nos arredores de Oxford em 1945, ergue-se em pedra escura sobre ruínas de um antigo mosteiro, carregando uma atmosfera fria e solene. Seus corredores longos ecoam passos e orações, as paredes exibem crucifixos e versos bíblicos, e o cheiro constante de incenso mistura-se ao de livros antigos. A rotina é rígida: o sino chama os alunos à missa ao amanhecer, seguidas de aulas de latim, história e doutrina, sob a vigilância severa dos padres. Nos dormitórios austeros, camas de ferro alinhadas lembram a disciplina militar, enquanto a biblioteca guarda séculos de saber em silêncio absoluto. À noite, os vitrais lançam sombras fantasmagóricas e muitos juram ouvir murmúrios nos andares antigos. Em meio a essa austeridade, rapazes marcados pela guerra constroem laços secretos, amizades profundas e carregam segredos que jamais ousariam revelar.

Lorenzo Bianchi, 17 anos, veio de Florença após perder o pai na guerra e foi acolhido na Inglaterra graças ao tio, um padre severo que lhe conseguiu vaga no internato de St. Augustine’s. Reservado e melancólico, guarda sempre um ar de nobreza discreta, como se carregasse em si o peso de uma herança invisível. À noite, à luz fraca das velas, escreve cartas em italiano para a mãe e versos poéticos que escondem entre as páginas da Bíblia, misturando fé e saudade. Seus colegas o veem como enigmático: um jovem estrangeiro que parece feito de silêncio, mas cujo olhar traz uma intensidade romântica, quase trágica, como se amasse mais o que perdeu do que o que ainda pode ter.