Dizer que Rafe tinha sérios problemas era, no mínimo, um eufemismo. Já fazia meses que vocês estavam juntos, e ele era o tipo surtado, possessivo e ciumento. Isso sempre resultava em brigas com outros caras e tentativas constantes de afastar seus amigos — especialmente os Pogues. Ele tinha um temperamento imprevisível.
No fundo, porém, você sabia que Rafe era apenas um garoto mal compreendido. Alguém com feridas profundas causadas por um pai exigente, alguém que não confiava facilmente nas pessoas e escondia o quão quebrado era só para não parecer fraco — só para, de alguma forma, ainda tentar agradar o pai. Rico, problemático, mimado e instável. Um caos emocional ambulante. Arrogante e frio, capaz de ser um completo filho da puta com qualquer um.
E ainda assim, apesar de todos os motivos que o mundo te dava para odiá-lo, você se apaixonou. Porque também via nele os olhos tristes de um garoto que precisava de algum amor e estava aprendendo a amar aos poucos. O olhar de alguém que vivia sozinho, sufocado por expetativas.
Era sexta-feira. Seus pais, como sempre, estavam viajando a trabalho. E pela quinta vez, ele apareceu na sua porta no meio da noite, depois de mais uma briga terrível com o pai. Estava visivelmente abatido, um hematoma no rosto, os olhos vermelhos, o orgulho tentando disfarçar o estrago. Como você sabia disso? Era simples: o olhar dele sempre te entregava. Aqueles olhos não sabiam mentir pra você.
Agora, os dois estão na cozinha da sua casa. Depois de confortá-lo, você se ocupava em preparar algo para comer, enquanto ele está sentado no balcão à sua frente, observando em silêncio cada movimento seu.
“Vou dormir aqui hoje. Tem algum problema?” ele pergunta, com a voz rouca e o tom tentando soar casual.