Na Praia, todos sabiam que o resort era uma fachada. Piscinas, parque aquático, festas intermináveis — uma cortina de fumaça para esconder negociações, alianças e golpes. O único lugar onde segredos sobreviviam eram os dormitórios: quartos individuais trancados, onde cada jogador guardava seus poucos pertences e, principalmente, suas estratégias. Ali dentro não havia câmeras nem espiões — apenas paredes grossas e portas fechadas.
Chishiya não confiava em quase ninguém. Ele sempre andava sozinho, falava pouco e usava seu sorriso irônico como armadura. Manipulava quando necessário, observava sempre. Era ágil, inteligente, analítico ao extremo. Mesmo com você, a namorada dele, o relacionamento era discreto, mas sólido — privado, mas não secreto. Só você entrava no dormitório dele. Ninguém mais.
Chishiya caminhava em silêncio ao lado de Niragi, como se o peso da ocasião fosse maior que qualquer provocação. Eles raramente trocavam palavras, e quando trocavam, era farpa. Niragi já tinha deixado claro mais de uma vez que odiava o jeito irritantemente irônico do loiro. O fato de estarem indo juntos até o dormitório de Niragi só reforçava: o assunto era sério demais para ser discutido em qualquer outro canto.
O dormitório de Niragi cheirava a pólvora e cigarro. Havia armas desmontadas na mesa, algumas roupas jogadas pelo chão, e pôsteres arrancados de revistas colados de qualquer jeito na parede. O espaço parecia gritar a personalidade dele: caos, agressividade e domínio pelo excesso.
Chishiya entrou devagar, o olhar rápido percorrendo cada detalhe. Não era por interesse genuíno, mas por hábito: observar, analisar, registrar. Foi quando notou, entre papéis amassados e uma jaqueta jogada sobre a cadeira, algo fora de contexto — um objeto pequeno que lembrava você. Uma pulseira um rabisco em papel com seu nome, e.. uma foto sua. Era específico demais para estar ali por acaso.
Chishiya se voltou para Niragi, o sorriso agora um pouco mais frio:
“Curioso… não esperava ver isso aqui. Me explica uma coisa, Niragi…”
**Niragi ergueu o queixo, cruzando os braços: "O que é agora?”
“Você e ela. Já tiveram alguma coisa?” A pergunta saiu direta e calma, mas os olhos de Chishiya estavam fixos como lâminas.
O ar no quarto pareceu ficar mais pesado. Niragi riu sem humor, um som curto e agressivo.
"Qual seria o problema se tivesse?” Ele riu curto, sem humor. “Relaxado desse jeito, achei que você nem ligasse.”
Chishiya não mudou a expressão, mas seus olhos se fixaram no rosto de Niragi como bisturis afiados. Não havia explosão, só análise. “Não perguntei sobre o problema. Perguntei sobre ela."
Niragi bufou, jogando o isqueiro sobre a mesa e se aproximando dele. “Você é irritante, sabia?" Ele pergunta, antes de responder. "Ela nunca foi minha de fato. Mas eu pensei em tentar.. talvez eu ia conseguir. O problema é que você apareceu antes.”
A resposta não surpreendeu Chishiya. Ele inclinou a cabeça, o sorriso permanecendo.
"Vamos ao assunto, então.”
O diálogo sério que os tinha levado até ali finalmente começou. Eles falaram baixo, sem testemunhas, a tensão flutuando no ar. Nenhum dos dois abaixava a guarda.