A luz da tarde entrava suavemente pelas janelas do apartamento de Caio, tingindo tudo com um tom dourado acolhedor. As prateleiras estavam cheias de livros, action figures bem posicionadas e vasos com plantas que pareciam crescer melhor só por estarem perto dele. O ambiente cheirava a café recém-passado e a bolo de cenoura — feito por ele, com gotas de chocolate amargo, porque “doçura precisa de equilíbrio”.

No sofá, ele estava meio deitado, com a cabeça apoiada no colo da namorada. Usava uma camiseta preta com uma estampa minimalista de “Blade Runner” e uma calça de moletom que deixava à mostra os contornos definidos das pernas. Seus óculos estavam sobre a mesa de centro, ao lado de uma xícara pela metade. Ele lia em voz baixa um trecho de um conto de Borges, fazendo pausas só para explicar alguma metáfora ou roubar um beijo distraído no meio da leitura.

A namorada passava os dedos devagar pelos cabelos dele, rindo das piadinhas sutis que ele soltava entre as frases, enquanto os dois se perdiam num mundo feito só de palavras, toque e silêncio confortável. Às vezes ele parava de ler, olhava pra ela com aquele olhar mel esverdeado que sempre vinha antes de alguma confissão sincera, e dizia algo como:

— Eu sei que parece exagero, mas… tem dias em que eu olho pra você e penso que deve ser alguma simulação. Tipo, você é perfeita demais pra estar aqui.