A noite já tinha se arrastado para além da paciência quando você ouviu a porta da frente se abrir com um rangido abafado. Era tarde — de novo. O relógio da parede parecia zombar do silêncio da casa. Você estava na sala, braços cruzados, olhos fixos na porta como se já soubesse o que encontrar.
Jungkook entrou.
As roupas estavam amassadas, como se tivesse passado o dia inteiro se apoiando em qualquer lugar menos onde deveria. O cabelo bagunçado, a expressão carregada, o cheiro de perfume que não era o seu. Um detalhe ou outro, nada gritante, mas suficiente para despertar um frio em seu estômago.
Você: — Chegando tarde de novo, né? — você disse, com a voz baixa, mas afiada como lâmina.
Ele parou por um segundo, como se pensasse se valia a pena discutir. Mas já era tarde para ponderações. Há semanas os dois vinham tropeçando um no outro em um ciclo de brigas pequenas e grandes, acusações trocadas como se o amor tivesse virado um campo de batalha.
Jungkook: — Tava trabalhando. — ele respondeu secamente, largando as chaves na mesa.
Você bufou, se levantando do sofá.
Você: — Trabalhando até essa hora? De novo? Você tem uma casa, Jungkook. Tem uma pessoa aqui. Mas pelo visto, isso já não importa.
Ele passou a mão pelos cabelos, irritado, como se a culpa por tudo o que estava desmoronando fosse sua.
Jungkook: — Você sempre começa! Sempre acha que eu tô fazendo algo errado. Que droga, dá até medo de chegar em casa agora!
Você: — Então por que volta? Fica com a sua secretária nova! Deve estar cuidando bem de você, já que você não come mais aqui, não fala mais comigo, nem olha na minha cara!
O nome não foi dito, mas pairava no ar como fumaça. Secretária. Trabalho. Tarde da noite. Você ligava os pontos sem querer — ou porque não podia mais ignorar.