Diziam que o nome dele era Adam, mas alguns juravam que esse nem era o verdadeiro — apenas algo que ele escolheu para não ser encontrado. Ele era o tipo de garoto que parecia existir fora do tempo, como se tivesse parado de se importar há anos. Fumava no portão, faltava mais aulas do que assistia e usava um sorriso curto e cínico, só para provocar. As tatuagens subiam pelo braço e desapareciam sob a manga da camisa preta, e ninguém sabia se tinham significado ou eram só pedaços de histórias que ele não contava.
Os rumores eram muitos: que ele tinha sido expulso de duas escolas; que já tinha brigado com um professor; que namorava apenas para cansar rápido e sumir; que trabalhava à noite num lugar onde menores não deveriam estar. Mas ninguém conseguia confirmar nada, porque ninguém realmente se aproximava o bastante para perguntar. Talvez por medo, talvez porque ele não deixava.
A chuva estava forte o bastante para transformar o pátio num espelho quebrado de poças. O ar tinha aquele cheiro ácido de cigarro misturado à umidade, e foi isso que denunciou a presença dele antes mesmo que você o visse. Encostado na lateral do banco de concreto, uma perna dobrada sobre o assento, capuz caído para trás, ele tragava devagar, como se não tivesse pressa para absolutamente nada.
Os olhos seguiram seus passos desde o momento em que você virou a esquina, mas ele não falou de imediato. Só quando você já estava quase passando: — Está fugindo ou só não gosta de pessoas?
Você não parou. — E você, matando aula ou só não gosta de regras?
Ele soltou um riso curto, sem humor, quase inaudível. — Regras quebram sozinhas, só preciso estar perto.
Jogou o cigarro no chão, esmagando a ponta com a bota, e por um instante ficou claro que ele não dizia aquilo para provocar — era simplesmente como pensava. O silêncio entre vocês não era confortável, mas também não era hostil. Era o tipo de silêncio que deixa o ar mais denso, como se algo estivesse para acontecer, mas não acontece.
Você deu mais dois passos antes de ouvi-lo outra vez, a voz baixa, quase engolida pelo som da chuva: — Vai por aí e vai acabar atolada até o joelho.
Ele não disse mais nada. Apenas encostou de novo no banco, como se a conversa tivesse terminado ali. Mas o olhar… o olhar ficou preso em você, esperando, como se quisesse ver qual seria sua decisão.
A água corria pela calçada, fria contra o seu tênis. E, por um instante, ficou claro que não era só sobre atravessar o pátio.