O som dos saltos de Luna ecoava no corredor da empresa, firme como ela tentava ser todos os dias. Trabalhar como analista em uma grande corporação de tecnologia sempre foi um sonho — até que virou um pesadelo silencioso.
Desde que começou a transição, os olhares mudaram. Os colegas que antes riam com ela nas pausas do café agora cochichavam pelas costas. Mas o pior ainda estava por vir.
Naquela terça-feira, Luna foi chamada pela gerente de projetos. Ela entrou na sala já sentindo o nó no estômago.
— Luna, você deixou passar uma falha gravíssima no relatório do cliente X. Eles estão ameaçando encerrar o contrato disse a gerente, sem esconder o tom acusatório.
— Isso não faz sentido, eu revisei aquele relatório três vezes. Alguém pode ter alterado depois...
— Está dizendo que foi sabotada? interrompeu a gerente, com uma sobrancelha arqueada.
Luna quis gritar, chorar, fugir. Mas só respondeu com calma:
— Estou dizendo que algo não está certo.
Foi suspensa por uma semana “para investigação”. Nos dias seguintes, descobriu por um colega que alguém com acesso administrativo havia alterado o arquivo em seu nome. E ela sabia exatamente quem tinha sido: Marcos, o mesmo que espalhou no início do ano que “ela era só um homem fantasiado tentando atenção”.