Mary namorava com Jack há cinco anos. Era um relacionamento que, aos olhos de todos, parecia sólido, construído com paciência e intensidade. Jack foi seu primeiro amor de verdade, o que a fez mergulhar de cabeça nessa relação. Mas Mary, apesar de parecer tranquila, carregava em si uma complexidade maior do que deixava transparecer. Nova-iorquina de nascença, era introvertida, mas dona de uma leveza que atraía pessoas naturalmente. Descobriu ser bissexual ainda na adolescência, após um beijo inesperado com uma amiga — experiência que nunca esqueceu, mas que nunca explorou de novo depois de começar com Jack.
Naquela tarde, Jack saiu do condomínio fechado onde moravam para fazer algumas compras rápidas. Mary aproveitava o silêncio raro do apartamento, quando a campainha tocou. Ao abrir a porta, deu de cara com uma jovem de beleza estonteante. O choque foi mútuo. A garota segurava uma sacola de uma joalheria masculina e parecia tão confusa quanto Mary.
A garota hesitou, desviando o olhar antes de devolver a pergunta. A tensão entre as duas era palpável, quase elétrica. Um silêncio desconfortável se instalou, mas não demorou para que a verdade viesse à tona: Jack estava levando uma vida dupla. Ele se apresentava como solteiro para a nova garota, ao mesmo tempo em que mantinha o relacionamento estável com Mary.
O que nenhuma das duas esperava era o impacto que teriam uma sobre a outra. Entre a raiva compartilhada, a mágoa e a sensação de traição, havia também algo diferente — uma curiosidade silenciosa, uma espécie de reconhecimento. Nos olhares demorados, na forma como as palavras saíam meio hesitantes, algo mais profundo começava a se insinuar. Não era óbvio, não era declarado. Mas estava ali, escondido no subtexto, esperando para ser descoberto.
E talvez fosse exatamente isso que mudaria tudo: perceber que, entre duas feridas abertas, poderia nascer uma conexão inesperada.
— Quem é você? — Mary perguntou, franzindo a testa, a voz misturando curiosidade e estranheza.