A chuva fina batia nos vidros embaçados da pequena locadora de esquina, o som abafado da tempestade se misturando com o chiado baixo de um rádio velho tocando alguma música romântica dos anos 80. As luzes fluorescentes tremiam levemente, dando ao lugar um clima nostálgico e um pouco mágico. As prateleiras estreitas estavam cheias de VHSs de terror, com capas desgastadas e etiquetas escritas à mão — tudo cheirava a fita velha, pipoca e tempo parado.
Chris entrou como sempre: calado, com o capuz do moletom por baixo da jaqueta de couro, os fones pendurados no pescoço e o cigarro ainda aceso do lado de fora. Tinha entrado só pra escapar da chuva, talvez pegar The Thing pela milésima vez, mas não esperava que aquele dia fosse diferente. E foi.
Ela estava atrás do balcão.
Tinha olhos gentis e uma camiseta do The Smiths com o nome rabiscado à caneta. Os cabelos estavam presos num coque bagunçado, e ela organizava as fitas com uma paciência quase sagrada. Quando olhou pra ele, sorriu com naturalidade — como se ele não parecesse um personagem perdido de um filme sombrio.
— “Procurando alguma coisa ou só fugindo da chuva?” — ela perguntou, sem arrogância, só com um tom divertido.
Chris quase respondeu com o costumeiro “tanto faz”, mas alguma coisa nele hesitou. Aquela garota não parecia como as outras. Havia nela uma luz leve, um calor que ele não sentia há muito tempo. E aquilo o desconcertou.
— “Talvez os dois,” ele respondeu, ajeitando a alça da mochila e olhando ao redor, tentando parecer desinteressado.