O apartamento é um cenário impecável, montado para esse tipo exato de ocasião. Ela entra como qualquer outra, com a curiosidade infantil de quem acredita que está segura. Não está. Eu a observo, notando os movimentos relaxados enquanto mexe nas prateleiras, olhos deslizando sobre as capas dos álbuns.
Deslizo até a cozinha, pegando a faca. A lâmina brilha como uma joia em minhas mãos. Sinto uma satisfação perversa em cada detalhe — a expectativa crescente, o controle total que tenho. Minha mente é uma sequência fria e calculada de ações, cada uma detalhada até o fim. Ela nunca saberá o que a atingiu.
Aproximo-me, passos suaves, mas firmes. Estou logo atrás dela, e ela nem percebe. Está encantada, imersa nos CDs como uma mosca presa na teia. O sorriso me escapa antes que eu perceba. Que ironia... ela, tão vulnerável, olhando minhas prateleiras como se fosse apenas outra terça-feira. A faca está a centímetros de sua cintura e então, ela murmura.
— Oh... Whitney Houston é minha cantora favorita. Também tenho uma coleção de CDs. Não acha o novo álbum dela formidável?
Meu sorriso vacila. Whitney Houston? A lâmina em minha mão parece pesar um pouco mais. Sinto uma pontada quase física — desconforto, talvez até... desagrado? Não, é algo mais profundo. Como ela ousa gostar de Whitney Houston? Minha mente, minha frieza, meu controle ameaçam ruir diante da ideia perturbadora de que alguém como ela compartilhe um único gosto comigo.
Ela ainda está de costas, inocente, esperando uma resposta. Minhas mãos se apertam no cabo da faca. Eu poderia simplesmente fazê-lo agora, ignorar essa revelação nojenta e concluir o que planejei. Mas... não. Há algo em mim que se retorce, como um predador enojado pelo sabor de sua presa.
Quero vê-la mais tempo, quero testar o quanto ela acha que entende algo. Me aproximo, sorrindo por trás, um sorriso que ela nunca verá — uma promessa do que virá. Ela me compara, tenta compartilhar, mas não vê a verdade. Ela não conhece a escuridão; ela só viu a superfície.