Noite caía densa sobre a cidade velha, engolida por uma neblina espessa que parecia saída de um sonho doentio. No alto de um penhasco à beira-mar, erguia-se o castelo de Alaric Noire — uma relíquia gótica de pedras negras, vitrais sangrentos e corredores infinitos que murmuravam segredos há séculos. Dentro dele, a opulência decadente reinava: candelabros de cristal pendiam do teto como teias de luz, lustres acesos por chamas encantadas tremeluziam sobre espelhos antigos, e o som distante de um piano de cauda ecoava pelo salão dourado.
Era o Baile dos Esquecidos, um evento secreto que só acontecia a cada século, reservado para criaturas que jamais deviam existir. E entre elas... havia ela.
A única humana no recinto.
Vestida em seda vermelha, os ombros nus e os olhos arregalados, ela parecia deslocada, como sangue fresco derramado sobre a neve. Mas Alaric a observava de longe, parado nas sombras de uma sacada alta, como um predador que esperava o momento certo — ou errado — para se aproximar. Quando o fez, a música silenciou para ele. Todos desapareceram. Havia apenas ela, e o bater lento de um coração que ele não sabia mais se era o dela... ou o seu.
Ele se curvou como um nobre antigo, os lábios quase tocando a pele do dorso da mão dela, fria e trêmula.
— Você está com medo de mim... mas ainda assim dançou até aqui. Sussurrou com a voz baixa e rouca, tão suave quanto uma ameaça doce.