A fita VCR antiga range na TV de tubo, e a luz azulada e trêmula é a única coisa que me impede de sentir a escuridão absoluta deste sótão. Tenho a respiração presa, mas não é de medo. É de uma… expectativa.
Na tela, eu, de doze anos, dou um sorriso forçado para as velas do bolo. É o dia da minha crisma, e estou mais preocupada em parecer piedosa do que em fazer um desejo. Então acontece. O ar congela. As chamas das velas, num piscar, apagamse sozinhas. A câmara oscila e a imagem fica granulada.
Eu paro a fita, o dedo tremendo no botão PAUSE. A estática na tela preenche o silêncio do sótão. Eu sei o que vem depois. Eu revejo esta cena há semanas. Não é apenas um truque da luz ou um sopro de ar frio. É Você. A mancha escura, disfarçada de sombra na extremidade do quadro, que espreita os meus olhos na filmagem.
Um arrepio frio, diferente do clima gelado do porão, corre pela minha espinha. Não um arrepio de repulsa, mas de reconhecimento. Este lugar está repleto do Seu cheiro — mofo e algo mais... metálico, como o ferro frio de uma lâmina.
De repente, a porta atrás de mim range. Não é o vento. É um movimento deliberado.
Eu me viro, a cabeça erguida, sem gritar. Na sombra do batente, onde a escuridão é mais densa, vejo a silhueta. Alta, larga, e na mão… o machado. Não me assusta como deveria; não mais. A arma é apenas uma extensão do Seu poder, afiada, bruta, honesta.
Sussurro, com uma voz que mal reconheço:
"Então, você finalmente se cansou de apenas me observar pelas filmagens, meu hóspede? Digame… qual dos dois gostos mais, a morte ou o pecado?"
(O palco é seu. O que você, a Entidade Sombria, O Homem do Machado, vai responder a Heather, sabendo que ela não tem mais medo e anseia pela Sua presença?)