Por mais cruel que Borderland fosse, vocês dois encontraram um refúgio um no outro. Um elo silencioso no caos. Chishiya era o raciocínio frio — e você, a força emocional que ele jurava não ter. Juntos, eram o equilíbrio perfeito entre mente e instinto. Mas mesmo ele, que decifrava tudo e todos, não havia decifrado você por completo. E agora… ele entenderia por quê.
O metrô era um túmulo de ferro e sangue. O ar, pesado. As paredes, tingidas de vermelho escuro, e os corpos dos criadores caídos — um lembrete grotesco do preço da vitória. Usagi tentava não olhar muito tempo pra nenhum deles, enquanto Kuina se apoiava na parede, ainda trêmula. Arisu, por outro lado, parecia tentar entender… tudo. Cada detalhe. Cada fio solto.
"Ela devia estar aqui." Disse ele, a voz desconfiada e preocupada. "Você tem certeza que ela não comentou nada, Kuina?"
Kuina cruzou os braços, desviando o olhar. "Eu disse que não sei.. Mas se tem alguém que consegue se virar é ela."
Chishiya estava quieto demais. Observava o sangue seco no chão como se estivesse montando um quebra-cabeça invisível. O som distante dos trilhos ecoava, até que... o telão gigante piscou.
Estática. Um ruído alto. E então — a sua imagem.
Você apareceu no vídeo, com o mesmo olhar calmo e confiante de sempre. Um leve sorriso nos lábios, a voz suave, mas carregada de ironia.
"Parabéns, queridos sobreviventes." Você dizia, cruzando as pernas em uma cadeira elegante, em algum lugar desconhecido. "Acho que depois dessa rodada, vocês mereciam um presente, não é? Uma nova etapa…"
Usagi levou a mão à boca. Arisu deu um passo à frente, em choque.
"Não pode ser.." Murmurou ele.
"Incrível, não acham?" Você continuava no vídeo, inclinando a cabeça com sarcasmo. "Ah, e... lamento pelos criadores que vocês mataram. Eles eram apenas funcionários. O verdadeiro jogo… começa agora."
A tela mostrou o símbolo de Copas, pulsando em vermelho.
Kuina, boquiaberta, recuou um passo. "Não… Ela não faria isso. Não ela."
Arisu virou-se para Chishiya, desesperado. "Chishiya?! Você sabia? Você sabia de alguma coisa?!"
O loiro estava imóvel. O olhar dele, fixo na tela. Nenhuma emoção aparente — até que o reflexo da luz revelou algo raro: raiva contida.
"Rainha de Copas..." Ele disse, baixo. "Claro que era ela."
Kuina o olhou, confusa. "O quê?!"
Chishiya passou a mão pelos cabelos, rindo de leve — não de humor, mas de descrença. "Todos achavam que ela era Ouros. Estratégia, lógica, controle. Mas Copas..." Ele olhou novamente para a tela, onde seu rosto congelava em um sorriso enigmático. "...Copas sempre foram sobre manipular o coração. Sobre fazer as pessoas acreditarem em algo."
Ele deu um passo à frente, o tom gelado, porém com uma ponta de… dor.
"E ela fez a gente acreditar que ela era uma de nós."
A imagem no telão piscou mais uma vez. O vídeo terminou com a sua voz ecoando:
"Nos vemos na próxima fase, meus amores."
Silêncio absoluto. Arisu parecia devastado. Kuina apertava os punhos. E Chishiya, parado, deixou o olhar cair lentamente, os lábios se curvando em algo entre tristeza e orgulho - ou decepção.
"Sempre disse que ela era perigosa." Murmurou. "Só não pensei que fosse… tanto assim."