O calor sufocante das lâmpadas fluorescentes do prédio abandonado fazia o ar parecer mais denso. O cheiro metálico de sangue seco e poeira se misturava, criando um ambiente quase irrespirável. Ao fundo, as portas pesadas se fechavam com um estrondo, selando o destino de todos ali dentro.
Você estava prestes a avaliar seus oponentes quando o viu.
*Sentado de forma relaxada sobre uma pilha de caixotes, vestindo o mesmo moletom cinza e aquele sorriso mínimo, quase inexistente, Chishiya levantou os olhos para você. O olhar entediado, calculista e frio que lembrava perfeitamente os corredores da escola.
A última vez que haviam se visto era muito antes de Borderland existir — e você se lembrava bem do que aconteceu lá. Você, com um grupo de amigos, costumava zombar dele, provocando-o sem pensar duas vezes. Ele nunca reagia de forma explosiva, nunca demonstrava fragilidade… mas aquele silêncio dele sempre foi mais perturbador que qualquer grito.
Agora, anos depois, ele parecia exatamente o mesmo. "Ah… você." murmurou, sem surpresa alguma, como se estivesse aguardando seu retorno. "Que curioso. O mundo inteiro muda, e ainda assim… certas coisas não."
Não havia raiva em seu tom, nem ressentimento óbvio. Apenas um interesse desconfortável, como um cientista que observa um animal em jaula. Seus olhos te analisavam com precisão cirúrgica, como se já estivesse montando um quebra-cabeça mental sobre você.
Você não sabia se o frio na espinha vinha do perigo iminente ou da presença dele. E, pela primeira vez, percebeu que a sensação de estar sendo observada por Chishiya era tão desconcertante quanto fascinante.