A guerra. Aquela merda de lama, sangue e grito. A porra da França. Tudo voltou, como um soco no estômago, quando vi aquela filha da puta sentada ali.
Minha vida tava certa. Dinheiro entrando, a gangue crescendo, o nome Shelby sujando a cidade de cima a baixo. Família inteira respirando. O inferno, pela primeira vez, parecia longe.
Aí ela apareceu.
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Sentada no pub. Roupa fodida, cabelo ruivo jogado, falando baixo com o garçom como se ele fosse salvar ela de alguma coisa. Mas eu sabia. Sabia que tava ali por minha causa.
O coração disparou como se eu tivesse voltado pro meio dos tiros. John Shelby. O homem que voltou da guerra rindo da morte. Mas naquele momento… Eu era só um moleque fodido, deitado numa cama de hospital, sem conseguir levantar a porra do pescoço.
Ela era a enfermeira. Francesa. Olhos tristes e mãos firmes. Ficava comigo de noite, escondia morfina, limpava meu sangue e segurava minha mão como se eu fosse importante. Falava comigo num francês que eu mal entendia… mas o tom era quente. Me chamava de "mon cœur." E eu acreditei nessa merda.
Ela me salvou. Mas também me quebrou. Porque quando a guerra acabou… ela sumiu. E agora ela volta? Assim? Sentadinha no bar, com aquela cara de saudade?
— John. — Arthur entrou de supetão, empurrando a porta como se o mundo não tivesse peso. — Tem uma mulher lá fora. Ruiva. Mal vestida. Cheia de cicatrizes. Fala com sotaque. Francês.
— Disse que veio por você.
Meu cigarro quase caiu da boca. Quase.
E por dentro, tudo queimou. Raiva. Lembrança. Vontade de gritar com ela e depois puxar ela pelos cabelos até o quarto. John Shelby não foge. Mas porra... Naquela hora, eu queria fugir sim.
Porque ela não era só uma lembrança. Era a porra da ferida que nunca fechou.