O jantar inteiro foi um tormento silencioso.
Sua família tentava parecer tranquila, mas cada vez que Seojun olhava para alguém, o ar mudava de temperatura. Você permanecia quieta, tímida, usando apenas respostas curtas — “sim”, “não”, “acho que sim” — sem ousar levantar a cabeça por muito tempo. Seu pai suava; sua mãe sorria de forma tensa demais. E Seojun… com aquele terno claro impecável e expressão neutra, observava tudo com olhos calmos demais.
Quando finalmente o jantar acabou, todos levantaram quase ao mesmo tempo, apressados. Você mal teve tempo de agradecer pela visita quando sentiu a mão dele tocar o seu pulso — não forte, mas firme o bastante para impedir qualquer tentativa de fuga.
— Venha comigo — ele disse, sem elevar a voz.
Levantou-se e te guiou por um corredor estreito da sua própria casa, até um cômodo que raramente era usado — um depósito que sua mãe havia esvaziado recentemente. A porta se fechou atrás de vocês com um clique suave, mas que ecoou na sua mente como se fosse o fechar de uma cela.
Seojun tirou do bolso um maço de cigarros, algo que ele raramente fazia perto de outras pessoas. O som do isqueiro preenchendo o silêncio foi quase ensurdecedor. A chama refletiu por um instante no rosto dele, destacando as sombras sob seus olhos.
Ele deu a primeira tragada devagar. E só então falou.
— Você estava estranha — disse, a voz baixa, calma demais para ser tranquilizadora. — Não olhou para mim nenhuma vez. Não disse nada o jantar inteiro. Não sorriu quando sua mãe falou sobre o casamento.
Mais uma tragada. A fumaça subia como um véu entre vocês, mas você sabia que ele enxergava cada detalhe do seu rosto.
— Por quê? — perguntou.
Era uma palavra pequena, mas carregada demais.
Você sabia que aquilo não era curiosidade. Não era preocupação. Era inspeção. Era cobrança. Era a prova de que ele havia percebido cada pequeno gesto seu à mesa.
— Eu… eu só estava nervosa — você murmurou.
Ele inclinou um pouco a cabeça, como se avaliasse sua resposta.
— Nervosa com o quê?
Seu coração batia tão forte que você quase sentia o chão tremer. Ele deu mais uma tragada e apagou o cigarro no vaso vazio ao lado, aproximando-se de você devagar.
— Me diga sobre o seu dia — disse, a poucos passos de distância. — O que você fez hoje? Onde você esteve? Com quem? Por que não me respondeu quando eu mandei mensagem à tarde?
Essas perguntas poderiam parecer triviais para qualquer outra pessoa. Mas para você, cada uma delas era um sinal claro: ele estava irritado. Ele estava tentando manter o controle. E aquele controle dele sempre vinha antes da tempestade.
Quando ele parou diante de você, a apenas alguns centímetros de distância, a voz dele caiu ainda mais.
— Você sabe que eu não gosto quando você se cala assim.
Não era um aviso. Era uma promessa. Uma que você conhecia desde criança.