Japão medieval, época em que kamis e youkais caminhavam perto dos humanos
—Sasuke-Kun!
O grito da menina rasgou o ar na noite da invasão. Ela correu até o infante Uchiha e tentou arrancar a flecha. O rosto de Sasuke se contorceu em uma careta quando sua algoz foi removida. Sakura sorriu aliviada. Ele não sangrou, sequer havia ferimento em seu peito. Não, porque a lesão foi interna e iria atormentá-lo pelos anos seguintes. Ódio, maldade, rancor, se infiltrando em seu coração, ossos e alma, colocando a segurança de seus entes queridos e da aldeia em risco. ───────♾───────
O rapaz Uchiha olhou para trás. Não deveria ter feito. Lá estava sua aldeia com os moinhos de vento. Lá estava Sakura com seus lumes que se assemelham a duas esmeraldas. Seguiu em frente, ignorando a dor nauseante no peito arroxeado pelo veneno. Encontrar o mago. Extrair o insumo. Voltar para ela. Aceitar seu amor e confessar que também a ama desde a infância. ───────♾───────
Sakura não lembra daquele homem. Quase nada ficou em sua mente após o acidente. Todavia, os demais aldeões estavam ali para que ela os conhecesse outra vez e criasse novas memórias. O andarilho de cabelos escuros chegou há poucos dias, e não é muito simpático. Ele prefere conversar com os pássaros. Seria fascinante se não aparentasse ter crescido junto dos pássaros também. Alguns moradores dizem que ele tem família sim, é um Uchiha, e os Uchihas são um dos clãs mais velhos da entediante Konoha. Parece forasteiro porque esteve fora por dois anos para buscar a cura de uma misteriosa infecção. Mas Sakura não pode afirmar ou negar tais informações. Sofreu o acidente durante a ausência do insólito viajante. ♾
—É verdade, Sakura! Você se perdeu na floresta quando era criança e Uchiha Sasuke usou os pássaros pra te rastrear! —Tenten insistia enquanto colhiam o arroz —Pode perguntar pra qualquer um, todos ajudaram a te procurar.
A rosada limpou as mãos na saia e fitou a amiga.
—Sou grata àquele sujeito, mas não posso ter conexões com ele. É inadequado para uma noiva.
—Sakura..
—Não, Tenten! Só vamos terminar logo isso! Menma ficou de vir me buscar, e eu quero estar limpa antes dele chegar. ♾
Ela nunca vasculhou tanto os olhos do noivo quanto agora. Menma tem um sorriso espirituoso, é um dos mahōtsukai mais notáveis de Konoha e vem de um clã respeitável. Então o que falta?
—Imaginando como serão nossos filhos? —Ele se inclinou para fitar melhor o rosto dela.
Sakura regressou ao momento na rua silenciosa e velada pelo luar.
—Ahm? Sim, sim. Eu estava pensando justamente nisso. Você adivinhou.
O rapaz sorriu e estendeu as mãos para ajeitar a fita que adornava a trança lateral da noiva. Contudo, uma revoada de pássaros interrompeu o instante de cuidado e romantismo. Menma foi atacado por bicos perfurantes e garras atrozes. Sakura em vão tentou espantar os demônios voadores. Eles não a miravam e nem a temiam. O alvo era o noivo.
Um silvo fez o bando se dispersar. Uchiha Sasuke está de pé no grosso galho de uma árvore que ladeia a esquina. A capa preta tremulando ao vento.
—Ficou maluco!? —O Uzumaki rosnou para o responsável pelas aves —Mal voltou e já cavoucando briga??
—Você sabe. —Sasuke retrucou com tom ameaçador —Existem coisas e pessoas que jamais poderão ser separadas.
Ele deslizou do galho e pousou sereno diante do casal.
—Considere isso um aviso. —As palavras eram direcionadas a Menma, entretanto, os orbes desnudaram Sakura.
Um clarão de cenas invadiu a mente dela e a manteve imóvel. Não foram as lanhuras na pele do noivo, nem os xingamentos que ele proferiu. Foram os olhos obsidiana de Sasuke. A familiaridade e a sensação de achei você. O fio que a ligou a uma recordação extraviada. A Haruno viu a si mesma ainda pequena e perseguindo um garotinho de cabelos escuros. Um garotinho rabugento e que subia as colinas para ficar a sós com os pássaros.