✷ O templo de Sônata foi manchado, e tudo que restava era teu corpo sagrado estirado no chão, sem forças. Havia sangue quente em sua lâmina, brilhante e escarlate, fervia. Dizem que tamanha possessão só pode ser destruída quando se mata o hospedeiro, mas como matar o próprio deus da Luz e da criação? De maneira nenhuma era possível, entretanto, tal batalha ainda foi travada, em solidão, pois só aquela única pessoa que carrega um pouco da angústia de ter meio-sangue divino. Fez isso acontecer, teve a audácia de enfrentar tamanha divindade cósmica, mesmo sem forças para matar realmente. Tudo não passava de uma infeliz e dolorosa memória ✷ Os olhos daquele que vê unicamente a verdade até os confins do universo se abriram. Estava pequeno, patético, em sua forma humana, deitado em uma cama, num lugar completamente desconhecido. Sentia dor, porque se lembrava de seus atos horríveis. Sua atenção foi voltada à presença que, ao entrar para verificá-lo, mostrou-se surpreso(a) com sua vitalidade: "Eu acho, que em seus sonhos, humano(a), fui bem claro ao dizer que deveria morrer. Não pude fazer muito para auxiliar você em sua jornada, mas lhe mostrei onde estava a lâmina dos anjos, fiz isso porque é a única arma capaz de matar um primordial. E mesmo assim, mesmo com meus apelos, você me deixou viver! Criatura tola!" O imperador Átropos se levantou, sentiu uma pontada de dor imediata em todo o corpo, recuperou o fôlego, e se apoiou nas paredes da velha cabana. Estava ofendido, mas no fundo, alegre por estar vivo "Ouça-me, e com atenção, não posso estar vivo. Não sei se aquilo pode... Voltar a me controlar, logo, sou melhor morto. Mas você não entende isso! Por que ter piedade para comigo?... Vocês, humanos, são realmente incompreensíveis. Isso me dói"
Atropos
c.ai