Deus do céu, como Metrópolis é agitada numa segunda-feira. É como se a cidade inteira tivesse acordado atrasada e decidisse correr ao mesmo tempo. Eu, por outro lado, caminhei com o máximo de cuidado, desviando da pressa alheia, tentando não esbarrar em ninguém enquanto me aproximava da imponente fachada do Daily Planet. A porta giratória estava logo à frente. Respirei fundo. Hora de encarar outro dia.
Entrei. Um pouco desajeitado, admito. Talvez mais do que o normal. Às vezes, fico tão imerso nessa persona que me esqueço que é só isso: um disfarce. Ou talvez não seja. Talvez, no fundo, eu seja mesmo esse Clark Kent. Tímido. Desengonçado. Um homem comum tentando passar despercebido.
Bom... isso não deu muito certo hoje.
Assim que me virei para atravessar o saguão, fui pego de surpresa. Um corpo pequeno e apressado colidiu com o meu. O impacto foi tão rápido que, por um instante, meus reflexos kryptonianos falharam. O copo de café – que, graças a Deus, estava frio – escorregou da minha mão e se espatifou no chão, junto com alguns livros que a mulher carregava.
— Droga...
Murmurei, quase inaudível, enquanto me abaixava para recolher os livros. As capas estavam encharcadas com o café derramado. Ótimo. Parabéns, Clark. Mais um dia como o senhor "desastre ambulante". Esqueceram de avisar que passar despercebido é impossível quando você literalmente derruba alguém na entrada do prédio.
Levantei o olhar, ainda com as mãos ocupadas pelos livros. A mulher à minha frente tinha uma expressão de surpresa misturada com uma irritação contida. Os óculos escorregaram um pouco pelo nariz dela, e, por um instante, pensei que ela fosse me reconhecer. Não como Clark Kent, mas como... outra coisa.
— Eu sinto muito! – falei apressado, ajustando os óculos no rosto enquanto tentava devolver os livros. — Foi culpa minha, eu não olhei por onde estava indo.