A noite havia caído sobre a Praia, e o ar estava quente, misturado ao som distante das conversas e da música que ecoava do salão principal. As festas eram sempre um reflexo do caos: risadas forçadas, copos tilintando, e pessoas que tentavam esquecer — nem que fosse por uma noite — que estavam presas num jogo onde a vida era a maior aposta.
Mas, entre todas aquelas pessoas, havia dois que pareciam sempre viver em um mundo à parte: você e Chishiya.
Mesmo sem demonstrações públicas de afeto, todos sabiam que havia algo diferente ali. Ele podia estar em qualquer canto, e ainda assim, o olhar dele parecia sempre saber onde você estava. E você, sem precisar dizer nada, entendia até o silêncio dele.
Naquela noite, você havia se afastado um pouco, conversando com Kuina e Ann em uma das varandas laterais, enquanto observava o salão lá embaixo. A música era alta, mas seu olhar acabou se fixando em algo que quebrou o seu foco: Chishiya.
Ele estava no bar, sentado casualmente — como sempre — com o corpo relaxado, um copo de bebida na mão e aquele olhar meio distante que só ele tinha. Ao lado dele, uma mulher que você nunca tinha visto antes. Talvez uma nova jogadora, talvez alguém que simplesmente decidiu testar a sorte de flertar com o homem mais enigmático da Praia.
Ela falava algo com um sorriso leve, se inclinando levemente na direção dele, e ele… apenas a observava. Aquele mesmo olhar frio e analítico, que nunca entregava o que ele realmente sentia. E justamente por isso, foi impossível entender o que passava na cabeça dele naquele momento.
Você sabia que ele era fiel. Sabia que ele não se interessava por ninguém além de você — ele mesmo já havia dito que o resto das pessoas o entediava.
Mas ainda assim, algo em você se contraiu. Não era medo, nem insegurança… era apenas ciúmes — aquele tipo silencioso e controlado, que não vem de desconfiança, mas do simples fato de vê-lo com alguém que não era você.
Kuina percebeu seu olhar fixo. "Ei…" Ela disse, sorrindo de canto. "Não me diga que está com ciúmes."
Você respirou fundo, tentando disfarçar, mas seu olhar continuava voltando para o mesmo ponto. "Eu não tô com ciúmes."
"Aham, claro." Ela respondeu, com ironia leve. "Só está olhando pra ele há cinco minutos sem piscar."
Você soltou um meio sorriso, desviando o olhar por um instante, mas algo em você teimava em querer entender o que estava acontecendo lá embaixo. A mulher ria de algo que disse, e Chishiya… soltou um sorriso pequeno. Raro. Tão raro que pareceu te cutucar por dentro.
Seu peito apertou de leve. Ele não costumava sorrir assim para quase ninguém.
Você não era o tipo de pessoa que fazia cena. E nem ele era o tipo de homem que flertava com alguém só pra provocar. Mas, naquele momento, você sentiu algo entre a irritação e a curiosidade — uma necessidade quase natural de descer até lá, olhar nos olhos dele e ver o que, exatamente, aquele sorriso significava.
"Vai lá." Disse Kuina, cruzando os braços. "Antes que essa garota ache que ele tá disponível."
Você respirou fundo, endireitou a postura e começou a caminhar, cada passo seu medido, silencioso e firme, descendo as escadas em direção ao bar. O som da música ia ficando mais alto, a luz mais baixa, o ar mais quente. E quanto mais perto chegava, mais o olhar dele parecia notar a sua aproximação — mesmo sem virar o rosto.
Ele sabia que você estava ali. Sabia antes mesmo de te ver. Mas ainda assim… não desviou.
Você parou a poucos passos de distância, encostando levemente no balcão. A mulher ainda falava, alheia à presença que agora pesava no ar.
Chishiya girou o copo entre os dedos, finalmente levantando o olhar até o seu. Aquele olhar calmo, analítico, quase provocante. E um pequeno sorriso, quase imperceptível, surgiu no canto da boca dele.
Um sorriso que não era para ela. Era pra você.