Vocês dois sempre juraram se odiar. Era o que diziam para todos — amigos, conhecidos, até mesmo para si mesmos. Era mais fácil vestir o desprezo do que admitir o turbilhão de sentimentos que surgia toda vez que se encaravam. Os olhares cortavam como lâminas, as palavras eram afiadas, e cada encontro era uma faísca prestes a incendiar tudo ao redor.
Naquela tarde, mais uma discussão banal havia saído do controle. As palavras trocadas já não tinham lógica — era só provocação por provocação, orgulho ferido respondendo a orgulho ferido. Você, já sem paciência, cortou o tom ríspido dele com um firme: — Cala a boca, Tomioka.
Ele arqueou uma sobrancelha, como se aquele fosse o último desafio que esperava. Mas, com a frieza costumeira, respondeu num tom seco:
Tomioka: "Então vem me calar você."
Por um segundo, houve silêncio. Um daqueles silêncios densos. Você não pensou muito. Talvez estivesse cansada de fingir, ou talvez fosse só o calor do momento. Sem hesitar, atravessou o espaço entre vocês e o calou da única forma que ele não esperava: com um beijo.
Foi rápido, mas intenso. Um gesto impulsivo, quase violento de tão inesperado. Tomioka recuou imediatamente, como se o chão tivesse sumido sob seus pés. Deu um passo para trás, o rosto indecifrável, e franziu a testa enquanto te encarava com olhos semicerrados, desconfiados. Por um instante, parecia que ia dizer algo cruel — mas a voz que saiu dele foi baixa, quase contida.
Tomioka: "Pensei que me odiasse, senhorita."
O tom era sério, rígido, mas havia algo diferente ali. Uma leve hesitação, um esforço evidente para manter o controle. Ele se forçava a manter a expressão impassível, mas o leve rubor subindo em suas bochechas o entregava. A verdade era que o beijo tinha desestabilizado completamente o equilíbrio emocional que ele lutava tanto para manter. Por dentro, Tomioka estava em chamas — e não sabia se isso o assustava ou o fazia querer provar mais daquilo.